Os franceses voltam às urnas neste domingo, 24, para decidir quem vai comandar o país pelos próximos cinco anos. Pela segunda eleição consecutiva, Emmanuel Macron, atual líder, e Marine Le Pen disputam a vaga de presidente. Contrariando o que tinha sido observado no primeiro turno, que apontava os dois como os favoritos e uma decisão acirrada para a escolha do mandatário, as eleições parecem se encaminhar para um segundo mandato de Macron. Uma pesquisa feita por Ipsos-Sopra Steria mostra o reformista com 15 pontos à frente, com 57,5% dos votos contra 42,5% de Le Pen. Caso se concretize, Macron será o primeiro chefe de Estado a ser reeleito em 20 anos.
Na quinta-feira, 21, os candidatos fizeram um debate tenso e expuseram suas diferenças. Enquanto Macron defendia o investimento na indústria francesa e o compromisso intransigente com a União Europeia, Le Pen se classificava como a voz do público que luta por uma melhor qualidade de vida. Na sexta-feira, 22, – último dia de campanha – houve mais ataques entre os candidatos. A líder de extrema-direita criticou a proposta do reformista de atrasar a aposentadoria e falou que os franceses que estão com Macron “estarão condenados à prisão perpétua”. Já o atual presidente declarou que “Marine Le Pen conseguiu avançar mascarada, mas os fundamentos da extrema-direita estão aí” – apesar dela ter tentado ser menos radical nesta eleição – e assegurou “que suas propostas sobre o poder aquisitivo não são viáveis”. A perda do poder aquisitivo é a principal preocupação dos eleitores franceses na eleição presidencial, cuja campanha também esteve marcada pela guerra na Ucrânia, o aumento dos preços da energia e a inflação.
A proposta dos dois candidatos divergem. Le Pen, de 53 anos, propõe inscrever a prioridade nacional na Constituição para excluir os estrangeiros dos auxílios sociais e defende o abandono do comando integrado da Otan e reduzir as competências da União Europeia (UE). A vitória da extrema-direita representaria um “terremoto” para a França e para a UE e coroaria sua estratégia. Macron, de 44 anos, defende ser “mais Europa”, seja em matéria econômica, social ou de defesa, e quer recuperar seu impulso reformista e liberal. Sua reeleição augura novos protestos sociais, como os dos “coletes amarelos” que abalaram a primeira metade de seu mandato, especialmente contra o atraso na idade de aposentadoria, embora ele já tenha dito que está aberto a permitir que ela seja iniciada aos 64 anos.
Apesar dos números apontarem Macron como novo presidente da França, ainda não há nada definido e as chaves do Eliseu estão nas mãos dos abstencionistas e dos leitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno. Em uma consulta interna de seu partido, França Insubmissa, dois terços defendem a abstenção ou voto em branco ou nulo. Os dois finalistas temem ainda uma desmobilização de seus eleitores, em plena férias escolares. Segundo pesquisa recente Ifop/Fiducial, a abstenção seria de 26%, chegando a 48% entre os eleitores de Mélenchon.
Proposta dos candidatos
Emmanuel Macron, de 44 anos, é o atual presidente da França e foi a pessoa mais jovem a assumir este cargo. Para reeleição, ele aposta em uma França “mais independente” no nível energético, agrícola e militar, até transformar a França em um país menos dependente de terceiros, dentro de uma União Europeia “mais forte”. Outros pontos importantes da sua proposta de governo são: reduções de impostos de 15 bilhões de euros, aumento da aposentadoria para 65 anos, reformas no seguro-desemprego e mercado de trabalho, investimento em energia ecológica, alcançar a neutralidade carbônica até 2050 e relançamentos de reatores nucleares.
Em seu primeiro ano de mandato, Macron enfrentou dificuldades logo de cara. No ano seguinte à sua eleição, houve manifestações dos “coletes amarelos”, que protestavam contra o aumento dos preços dos combustíveis e denunciavam as medidas adotadas, alegando que seriam contra as classes populares. Esses atos fizeram com que ele fosse visto como “presidente dos ricos”. Dois anos depois, em 2020, assim como o resto do mundo, o líder francês precisou lidar com a pandemia de Covid-19. Suas decisões para evitar a proliferação do vírus e proteger os moradores não foram bem aceitas por todos, o que despertou a ira dos opositores.
Marine Le Pen, de 53 anos, foi a segunda colocada nas eleições de 2017. A candidata do Reagrupamento Nacional, um partido de extrema-direita com posicionamento nacionalista e anti-imigração, concorre à presidência pela segunda eleição consecutiva. Da última votação para essa, Marine apostou na reforma da imagem de extremista e, entre as propostas da sua candidatura, investiu no discurso da preservação do estado de bem-estar social.
Para vencer, Marine tem feito críticas aos aumentos de preço que têm acontecido na França e batido em uma das propostas de seu adversário, a de aumentar para 65 a idade mínima para aposentadoria. Ideias relacionadas aos conservadores são parte de sua campanha. Dentre seus principais objetivos estão: controle de imigração, erradicação da ideologia islâmica no território francês, melhorar o custo de vida dos moradores, reduzir os impostos, reforma da aposentadoria e nacionalizar as estradas. Uma possível vitória de Marine será a ascensão da primeira mulher ao palácio do Eliseu e a chegada da extrema-direita ao poder.
Jovem Pan com informações da Reuters e AFP