A ministra do Esporte, Ana Moser, considera que esportes eletrônicos - os jogos de videogame disputados competitivamente - não são esportes e, por isso, não investirá neste segmento. A ex-jogadora de vôlei comparou o treino de atletas de e-Sports ao da cantora Ivete Sangalo e declarou que os esportes eletrônicos fazem parte da indústria do entretenimento, assim como a música.
— A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, você se diverte jogando videogame, você se divertiu. "Ah, mas o pessoal treina para fazer". Treina, assim como o artista. Eu falei esses dias, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte — disse Ana Moser em entrevista ao UOL.
Ela disse que não haverá investimento do Ministério do Esporte nos e-Sports e lembrou que a ONG "Atletas pelo Brasil" atuou para que a Lei Geral do Esporte, cuja proposta está em tramitação no Senado, não deixasse o conceito de esporte tão amplo a ponto de poder incluir e-Sports.
— A questão do esporte eletrônico a nível federal ainda não é uma realidade. Não tenho essa intenção [de investir nisso]. No meu entendimento, não é esporte. A gente lutou, no ano passado, eu na minha vida pregressa, a frente da Atletas pelo Brasil, a gente fez uma ação muito forte junto ao Legislativo para o texto da Lei Geral [do esporte] não ser aberto o suficiente para poder ter o encaixe dos esportes eletrônicos. O texto está lá protegendo o esporte raiz. Na definição de esporte, tinha sido dado uma abertura que poderia incluir esporte eletrônico, e a gente fechou essa definição para não correr esse risco. Lógico, risco sempre acontece, e é um trabalho constante.
O projeto da nova Lei Geral do Esporte (PL 1.153/2019), do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), foi aprovado em junho no Senado, com relatoria de Leila Barros (PDT-DF), e em julho pela Câmara. Mas o texto sofreu alterações e, por isso, precisará ser apreciado novamente pelos senadores.
A discussão sobre se e-Sports são esportes ou não é antiga para a comunidade de jogos eletrônicos e passa pela inclusão de games no programa olímpico.
Em março de 2022, o Comitê Olímpico Internacional (COI) descartou a possibilidade de realização de campeonatos de games que não envolvam atividade física nas Olimpíadas. Por outro lado, o COI anunciou que Singapura será sede da Semana Olímpica de Esports em 2023. O evento é um "próximo grande passo no apoio ao desenvolvimento dos esportes virtuais dentro do Movimento Olímpico e no envolvimento com grandes gamers competitivos", segundo a entidade máxima do esporte tradicional.
Entre as atrações da Semana Olímpica de Esports estão as finais presenciais do Olympic Esports Series, competição global em colaboração com as federações internacionais. Esta se baseia no Olympic Virtual Series, que aconteceu no ano passado. Para Thomas Bach, presidente do COI, a ação se trata de um "marco importante em nossa ambição de apoiar o crescimento dos e-Sports dentro do Movimento Olímpico".
Em setembro de 2022, os Jogos Olímpicos Asiáticos tiveram competições de e-Sports, não só de jogos com atividade física. Foram oito modalidades de esportes eletrônicos com distribuição de medalhas, entre elas League of Legends, FIFA e DotA 2, e duas de demonstração. Foi a primeira vez que o evento, equivalente aos nossos Jogos Pan-Americanos, deu medalhas para esports.
Em 2018, na Indonésia, houve competições de League of Legends, Arena of Valor, Clash Royale, Pro Evolution Soccer, Hearthstone e StarCraft 2, mas como demonstração. Elas não contaram para o quadro de medalhas. Em 2022, os torneios de esports passaram a fazer parte do programa olímpico, conforme deliberação do Conselho Olímpico da Ásia em dezembro de 2020.
No ano passado, o presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que pretende trabalhar para que os e-Sports tenham uma conexão com as Olimpíadas de Paris 2024. Ele mostrou interesse que o país, no mesmo ano, também receba alguns dos campeonatos mais importantes do esporte eletrônico, como os torneios mundiais de League of Legends (Worlds), Counter-Strike: Global Offensive (Major) e Dota 2 (The International).
Fonte: ge