Pivô da denúncia sobre uma suposta tentativa de espionar o ministro Alexandre de Moraes, o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) recuou nesta quinta-feira (02) da intenção de renunciar ao mandato e abandonar a vida pública. Ele havia anunciado a decisão nessa quarta-feira (01) em suas redes sociais.
Do Val afirmou em uma reportagem da revista Veja ter sido aliciado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), preso hoje pela PF, para participar de uma articulação por um golpe de Estado.
Segundo ele, Bolsonaro e Silveira queriam que ele utilizasse equipamentos do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) para gravar conversas com o ministro Alexandre de Moraes, do STF — possíveis declarações comprometedoras seriam usadas como pretexto para o golpe, segundo ele.
Mudança de posição
Ontem, Do Val fez uma publicação em seu perfil no Instagram comunicando seus eleitores que iria abandonar a política e desistir do mandato no Senado. Ele atribuiu a decisão a questões familiares e “ataques e ofensas” sofridos.
“Após quatro anos de dedicação exclusiva como senador pelo Espírito Santo, chegando a sofrer um princípio de infarto, venho através desta, comunicar a todos os capixabas a minha saída definitivamente da política. Perdi a convivência com a minha família em especial com minha filha. Não adianta ser transparente, honesto e lutar por um Brasil melhor, sem os ataques e as ofensas que seguem da mesma forma”.
Marcos Do Val (Podemos-ES)
“Nos próximos dias, darei entrada no pedido de afastamento do senado e voltarei para a minha carreira nos EUA. Nada existe de grandioso sem paixão. Essa paixão não estou tendo mais em mim. As ofensas que tenho vivenciado, estão sendo muito pesado para a minha família. Que Deus conforte os corações de todos os meus eleitores. Desculpem, mas meu tempo, a minha saúde e até a minha paciência já não estão mais em mim! Por mais que doa, o adeus é a melhor solução para acalmar o meu coração”
Em entrevista coletiva realizada hoje em Brasília, Do Val recuou e indicou que deve seguir no Senado. Ele disse que reavaliou a decisão após conversar com membros de sua equipe e aliados.
“Naquela hora que eu postei, se fosse em horário comercial, eu tinha saído. Quando acordei com o telefone da minha filha, eu comecei a falar: Se eu sair, não vou mostrar o resultado do meu trabalho porque estou sofrendo essa perseguição. Então eu pedi para minha equipe esperar que eu queria reunir, e minha equipe pediu para que eu ficasse. E meus colegas. Isso mexe com a gente.”
Uma das responsáveis por demovê-lo da ideia de renunciar foi a deputada estadual por SP, Janaína Pascoal. Ela disse ter conversado com Do Val sobre o assunto.
“Acabo de conversar com o Senador Marcos do Val. Ele não vai deixar seu mandato. O Senador se sente muito injustiçado pelos ataques que sofre da esquerda e da direita e, em tom de desabafo, disse que sairia da Política. Ele vai reunir sua equipe para uma reunião e troca de ideias”
Do Val relata um diálogo presenciado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), logo após as eleições de outubro, em que o então deputado Daniel Silveira teria proposto uma ação golpista ao parlamentar.
O senador diz que a proposta foi verbalizada pelo então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) – Bolsonaro estava na mesma reunião e, segundo o senador, indicou concordar com a ideia.
Marcos do Val diz que pediu para analisar a proposta e responder em um segundo momento. E que, em seguida, relatou o caso ao próprio ministro Alexandre de Moraes. Ainda de acordo com o senador, Moraes ficou surpreso e considerou a proposta “um absurdo”.
Janaína Pascoal, deputada estadual
Ontem, durante uma live com integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), o senador capixaba havia adiantado que sua denúncia contra Bolsonaro seria publicada na revista Veja.
“Vocês esperem. Eu vou soltar uma bomba aqui para vocês. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. E é lógico que eu denunciei”.
Fonte: Portal Uol