Até onde pode ir o amor por clube de futebol? Viajar muitos quilômetros para acompanhar sua equipe é uma dessas provas de amor. Assim como torcer pelo seu time de coração independentente da fase em que ele esteja. Na saúde e na doença, como se diz.
Mas o futebol também consegue rimar amor com loucura. Foram essas rimas que pai e filha escreveram uma semana atrás, no Sertão da Paraíba, na decisão do estadual. Os dois vestiram o manto e impuseram faixas e cores do time adversário. Mentiram para todo um estádio. Mas nunca para si. Tudo isso para acompanhar o título do Treze, diante do Sousa, na casa do clube sertanejo, em partida em que só poderia estar presente a torcida do time da casa.
Foi, talvez, a primeira vez que torcedores de um clube comemoram um título do seu clube de coração com a camisa de um adversário. Foi assim que a médica veterinária Hemmelly Morais, de 28 anos, e seu pai, Edivandro Barros, servidor público de 63 anos, viveram a tensão e a alegria de acompanhar 90 minutos torcendo para um clube, vestidos com as cores de outro.
— Chegamos em Sousa na sexta-feira à noite. Mas já com medo, porque a placa do carro era de Campina Grande, mas deu tudo certo. Compramos uma faixa do "Maior do Sertão" (em alusão ao Sousa, adversário do Treze na final). Ficamos no meio da torcida, para disfarçar. Eu já não aguentava mais ficar naquela torcida. As lágrimas no fim do jogo... muita gente pensou que era pela tristeza da derrota. Mas não era — comentou Hemmelly.
Para além do nervosismo de estar em um ambiente do rival daquele sábado, fora de casa, o jogo também tratou de ser altamente tenso para os torcedores do Sousa e os infiltrados — algumas dezenas de torcedores do Galo foram à paisana para o Estádio Marizão.
O Treze havia vencido o primeiro jogo da final por 2 a 1, em Campina Grande, quando apenas a torcida do Galo se fez presente no Estádio Amigão. Na volta, em Sousa, Hemmelly e seu pai viram o clube da casa fazer 1 a 0 perto do fim do jogo e levar a decisão para os pênaltis. Nas penalidades, o Galo foi mais competente, acertou as quatro cobranças a que teve direito e venceu por 4 a 2, conquistando a taça.
Quem não entendeu bem toda essa história de amor foi o filho de Hemmelly. Mas não vai demorar para o garoto poder dizer que fez parte de um dia tão importante para o Treze, para a família e para a formação do seu caráter como torcedor.
Após as vitórias nos pênaltis, o título em mão e sem a torcida da casa nas arquibancadas, os trezeanos puderam ficar mais à vontade. Muitos entraram no gramado e tiraram foto com a taça. Hemmelly ainda voltou para Campina Grande no mesmo dia, escoltando os campeões até acidade do Galo, que estava em festa.
Fonte: ge PB