Esportes Esportes
Manipulação: em conversa com apostador, Bauermann, do Santos, foi cobrado por não cumprir acordo
Zagueiro teria recebido adiantamento de R$ 50 mil para levar cartão amarelo em jogo do Peixe, mas não foi advertido e foi cobrado pelo grupo investigado por manipular partidas no Brasil
08/05/2023 20h25
Por: PATOS ONLINE Fonte: Fonte: ge
Eduardo Bauermann em treino do Santos — Foto: Raul Baretta/ Santos FC

A revista Veja revelou nesta segunda-feira conversas entre Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, e um apostador envolvido com a quadrilha investigada por manipular jogos do futebol brasileiro.

O defensor, segundo o Ministério Público, teria recebido R$ 50 mil para levar cartão amarelo no empate entre Santos e Avaí, pelo Brasileirão do ano passado, mas não foi advertido. Ele teve uma conversa antes da partida e foi cobrado por ter terminado o jogo sem a punição.

Veja a transcrição da conversa:

Eduardo Bauermann: "Mano, só me avisa antes se realmente vai dar pra fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende".

Apostador: "Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nois (sic) sempre dá um jeito. Mano se você falou pra alguém (da) aposta manda não apostar mais, demoro (sic). Tmj vamos pra cima".

Eduardo Bauermann: "Não, não, nem falei nada mano... quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui pra fazer vou cortar já".

(Horas depois)

Apostador: "Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????".

Como já tinha recebido o dinheiro e não cumpriu o esperado pelo apostador, o zagueiro do Santos aceitou outra aposta: seria expulso no jogo seguinte, contra o Botafogo. Ele de fato recebeu o cartão vermelho, mas após o término da partida, o que irritou novamente o apostador.

Apostador: "Olha a porra da merda que você fez. Mano, pq você não fez a porra que eu te falei. Mano, pq não tomou essa porra no primeiro tempo. Pq não deu uma porra de uma cutuvelada (cotovelada). Mano, pq você não me escuta, mano. Você me fudeu de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma porra de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, pq você não quis".

Eduardo Bauermann: "Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você...".

Apostador: "Pq você não deu uma cotovelada no cara???? O barato vai ficar louco para você".

Eduardo Bauermann: "Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou".

Apostador: "Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?".

Eduardo Bauermann: "Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro".

Apostador: "Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano".

O Santos afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso de Eduardo Bauermann até conversar com o jogador, o que está previsto para ocorrer nesta terça-feira.

Em contato com o ge, o empresário Luiz Taveira, citado por Bauermann em uma das mensagens, disse que nunca realizou apostas, reforçou a confiança no jogador e garantiu que não sabia que o atleta havia sido procurado por apostadores.

Entenda o caso

O Ministério Público de Goiás fez uma nova denúncia sobre manipulação de jogos no futebol brasileiro. Estão sob investigação partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro de 2022, além de confrontos dos estaduais que aconteceram neste ano.

As informações foram publicadas pela Veja. São pelo menos 20 partidas sendo analisadas pelo MP. A nova denúncia ainda não teve resposta da Justiça, mas foi feita a partir da busca e apreensão de equipamentos em fases anteriores da Operação Penalidade Máxima.

Os clubes e casas de apostas são tratados como vítimas.

Os casos investigados envolvem apostas para lances como punições com cartões amarelo ou vermelho e cometer pênaltis. Bruno Lopes de Moura, apostador que havia sido detido na primeira fase da operação, é visto pelo MP como líder da quadrilha no esquema de manipulação de resultados. Outras 16 pessoas podem virar réus no caso.

Na fase anterior da operação, alguns jogadores foram alvos de uma operação de busca e apreensão: os zagueiros Victor Ramos, da Chapecoense, Kevin Lomónaco, do Bragantino, Paulo Miranda, ex-Juventude, e Eduardo Bauermann, do Santos, os laterais-esquerdos Igor Cariús, do Sport, e Moraes, ex-Juventude e hoje no Atlético-GO, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS.

Na fase atual, foram adicionados os nomes dos volantes Fernando Neto, ex-Operário-PR e hoje no São Bernardo, e Nikolas, do Novo Hamburgo-RS, e do atacante Jarro Pedroso, do Inter-SM.

O MP-GO pede a condenação do grupo envolvido na manipulação, além do ressarcimento de R$ 2 milhões aos cofres públicos por danos morais coletivos, ainda segundo a Veja.

Entre os detalhes obtidos nesta investigação do MP-GO estão os valores oferecidos para que os jogadores fizessem os atos previstos nas apostas. Veja abaixo quais são:

Palmeiras 2 x 1 Juventude

Juventude 1 x 1 Fortaleza

Goiás 1 x 0 Juventude

Ceará 1 x 1 Cuiabá

Red Bull Bragantino 1 x 4 América - MG

Santos 1 x 1 Avaí

Botafogo 3 x 0 Santos

Cuiabá 1 x 1 Palmeiras

Sport 5 x 1 Operário

Guarani 2 x 1 Portuguesa

Portuguesa 3 x 0 Bragantino

Esportivo 0 x 0 Novo Hamburgo

Caxias 3 x 1 São Luiz

R$ 100 mil para corromper atletas

Segundo o MP, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos, como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time.

Diante dos resultados previamente combinados, os apostadores obtinham lucros altos em diversos sites de apostas – ou diretamente, ou por meio de laranjas.

Fonte: ge