O Ibovespa chegou a 13 pregões seguidos de queda nesta quinta-feira (17), pressionado pelo recuo de ações do setor financeiro, entre elas as da B3, o que ofuscou a recuperação dos papéis da Vale. Isso frustrou mais uma vez a tentativa de quebrar a sequência negativa iniciada em agosto. Não há registro de uma série tão longa de quedas desde, pelo menos, o começo da década de 80.
Segundo o AE Dados, tal encadeamento de perdas diárias não era visto desde 1970, há 53 anos.
O índice de referência do mercado acionário brasileiro fechou o dia em queda de 0,53%, a 114.982,3 pontos. Na máxima, pela manhã, chegou a subir a 116.610,49 pontos e, no pior momento, recuou para 114.859,21 pontos.
O volume financeiro nesta quinta, véspera de vencimento de opções sobre ações na B3, foi de R$ 27,3 bilhões.
A queda em agosto já totaliza 5,7% e vem após o Ibovespa ter acumulado alta de quase 20% em quatro meses, até o fim de julho, mês em que também flertou com os 123 mil pontos. O resultado também segue a saída de estrangeiros da Bolsa, com as vendas superando as compras em quase R$ 7,4 bilhões no mês até o dia 14.
A piora no pregão brasileiro acompanha o enfraquecimento de Wall Street, que mostra receio de agentes financeiros com o risco de o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manter as taxas de juros elevadas por mais tempo. Isso tem levado investidores a ajustar suas expectativas em relação aos juros do país, para embutir o risco de o Fed não reduzir a taxa no próximo ano tanto quanto o esperado anteriormente e parar de cortá-la em um nível mais alto. Em Nova York, o S&P 500 fechou com um decréscimo de 0,77%.
Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez, diz que houve uma reprecificação de risco que envolveu a política monetária nos EUA, que está apoiando a alta, principalmente na parte longa da curva de juros americana. Ele explica que isso pesa em Wall Street e atrapalha uma recuperação do Ibovespa.
Os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA atingiram seus níveis mais altos desde outubro, e os rendimentos de 30 anos alcançaram máximas de 12 anos nesta quinta-feira.
Os yields (indicadores que medem o rendimento de ações com o pagamento de dividendos) do Treasury de dez anos chegaram a 4,328%, antes de caírem para 4,292%. Se o movimento superasse o nível de 4,338%, registrado em outubro, os rendimentos iriam a seu mais alto nível desde novembro de 2007. Os chamados rendimentos reais, que se ajustam à inflação esperada, também dispararam.
Lucci acrescenta que os últimos dados mostram resiliência da economia dos EUA, enquanto sinalizações recentes do Fed indicam ausência de consenso sobre a decisão de parar a alta dos juros. "Existe uma discussão interna [no banco] de que poderia haver mais aumentos de juros antes de uma pausa."
Além do cenário externo, o CEO da BGC destaca que, no Brasil, o atraso na apreciação da nova regra fiscal pela Câmara dos Deputados gera desconforto e corrobora o movimento de realização de lucros na Bolsa paulista.
O novo marco fiscal já havia sido analisado pelos deputados, mas o texto sofreu alterações na votação pelo Senado e agora volta à Câmara para uma decisão final.
Nesta quinta, o relator do novo arcabouço fiscal nessa instância do poder, Cláudio Cajado, disse que a definição da data para votar a matéria na Casa dependerá de uma reunião entre líderes partidários e representantes do governo federal, que vai ser realizada na residência de Arthur Lira, o presidente da Câmara, marcada para a próxima segunda-feira (21).
Do R7, com agências