A cidade de Patos, no Sertão da Paraíba, conhecida como 'Morada do Sol', é uma das mais quentes do estado. Nesta época do ano, a primavera, que antecede o verão, as temperaturas estão um pouco mais altas que o comum por lá. É neste cenário que moradores do município buscam alternativas para “driblar” o calor e terem uma vida mais amena. As estratégias vão de lençol geladeira a 'revezamento' em balde.
De acordo com a Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), Patos registrou a temperatura mais alta do estado em 2023: 39,5ºC, no dia 31 de outubro. Segundo a metereologista Marle Bandeira, o motivo para as altas temperaturas é que a cidade está em uma região semi-árida, no Sertão do estado. Além disso, colaboram a localização, a altitude, a vegetação e a direção do vento.
Também conforme a Aesa, essas temperaturas elevadas acontecem devido ao fenômeno meteorológico El Niño, que ocorre por causa do aquecimento das águas superficiais da faixa equatorial do Oceano Pacífico. Esse aquecimento gera anomalias climáticas em várias regiões do planeta. No Norte e Nordeste do Brasil, o ar desce quente e seco e causa a ausência de nuvens.
O g1 separou as principais dicas que os moradores de Patos vem fazendo para enfrentar o calor na região. Veja abaixo.
Uma das alternativas mais inusitadas da população de Patos para amenizar as altas temperaturas é colocar os lençóis, que são utilizados para dormir, na geladeira, para que o material fique mais fresco. Esse é o caso do radialista Rafael Freitas, que tem se utilizado desta artimanha.
“Toda vez que eu abria a geladeira e sentia aquele friozinho gostoso, tive a ideia de botar o pano para gelar, para usar a noite, porque ameniza um pouco o calor, que está escaldante. A gente que é de Patos, que já está acostumado, mas ultimamente está insuportável, muito quente”, explicou em entrevista para a TV Paraíba.
“Assim que a gente acorda, logo cedo, colocamos (o lençol na geladeira), já dobramos, pra passar o dia todinho lá. Quando é de noite, ele ainda dura uma hora, uma hora e pouquinho geladinho”, disse Rafael.
O radialista explica que mesmo ficando 'geladinhos', os lençóis que ficam na geladeira durante todo o dia ajudam apenas a amenizar as altas temperaturas, porque no final das contas não resolve o problema.
Além do recurso dos lençóis na geladeira, Rafael e a família também utilizam o ventilador ligado juntamente com o ar-condicionado na menor temperatura possível para conseguirem ter boas noites de sono em meio ao calor durante a noite.
“É o ar-condicionado ligado a noite todinha, o ventilador ligado a noite todinha, e mesmo assim é calor. Foi a única saída que deu para amenizar o calor, para conseguir dormir um pouquinho a mais, porque sem isso acordávamos várias vezes a noite”, contou.
Rafael ainda contou que apesar de ter conquistado um clima melhor com as artimanhas, em contrapartida a conta de energia elétrica da residência subiu em torno de R$ 200 e R$ 250 desde que a família passou a adotar a medida de urgência contra o calor.
Outra maneira inusitada de combater a sensação de altas temperaturas que alguns moradores de Patos estão fazendo é simplesmente entrar dentro de baldes cheios de água, com ventiladores ligados ao redor durante o dia. Isso acontece com o músico Erileuson Manoel da Silva, que encontrou essa maneira para conseguir dar prosseguimento aos afazeres diários.
“A situação está precária, porque estamos tendo que gastar dinheiro com gelo todos os dias, temos que estar dentro de um balde de água, para refrescar a parte de baixo do corpo e os ventiladores na parte de cima”, explicou.
Além disso, o músico disse em entrevista para a TV Paraíba que existe um revezamento entre pessoas próximas para que todos consigam utilizar o balde em meio ao calor.
“Temos aquele negócio de estarmos revezando. Um fica 5 minutos, outro fica mais 5 minutos, depois outro vem e pede para entrar e fica assim o dia todinho”, conta.
Erileuson diz também que em alguns momentos chega a colocar gelo dentro da água ou utilizá-lo a parte, até mesmo durante o período da noite, que teoricamente seria mais fresco, para contornar o calor.
Um amigo de Erileuson, Melquizedeque Araújo, que é estudante, também participou da ideia de colocar baldes com água para auxiliar no dia a dia em Patos, mesmo assim ele explica que não é suficiente.
“Funciona, vamos dizer que melhora, porque estou vendo a hora colocar o tênis na rua e o solado ir embora. Temos que improvisar, caso contrário vamos sofrer mais ainda”, ressaltou.
Segundo Melquizedeque, a artimanha é feita para substituir o sofá da sala ou o quarto da casa, naqueles momentos de relaxamento, para mexer no celular, e é utilizada na varanda da residência, que é mais ventilada que o interior da casa.
Outra dica que os moradores de Patos dão para enfrentar o calor é para quem anda com motos. Segundo o comerciante Severino dos Santos, para não ter que sentar no veículo depois de estacionado debaixo do sol intenso e evitar o calor do assento, é necessário utilizar papelão como forma de proteção.
“A gente coloca o papelão no banco da moto, pra poder diminuir a quentura, o calor. Eu coloco o papelão nas motos pra isso e os motoristas me dão um agrado (financeiro)”.
O comerciante também diz que além de cobrir as motos dos mototaxistas, ele também costuma vender para a classe garrafas de água, mangas longas para cobrir os braços e outros aparatos que ajudam.
Algumas das estratégias usadas pelos moradores de Patos podem gerar problemas de saúde. O alerta é do médico Emanuel Santana. Usar roupas estando molhado ou tirar lençóis da geladeira, por exemplo, pode acarretar em problemas de pele, como a proliferação de fungos.
"A gente tem que ter muito cuidado, em sair do banheiro molhado e vestir roupas. Ou também essa estratégia de pegar um cobertor molhado e dormir com ele. Isso pode prejudicar demais a qualidade da nossa pele, fazendo com que a gente tenha problemas", disse.
Conforme as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a população das cidades atingidas pela onda de calor podem se proteger de várias formas. O próprio Inmet também orienta sobre os cuidados a serem tomados, não só pelo calor extremo mas também pela baixa umidade relativa do ar, também incidente nestas cidades.
Os riscos da baixa umidade são de incêndios florestais e à saúde, como ressecamento de pele, e desconforto nos olhos, boca e nariz. Para evitar estes problemas, os órgãos orientam medidas como:
Fonte: g1 PB