A professora e advogada Danielle Lucena está promovendo uma iniciativa inovadora para estimular a reflexão crítica e a formação cidadã entre os estudantes do curso de Administração do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas (CCEA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Patos. Há pouco mais de um ano, ela idealizou e lidera um Clube de Leitura que visa não apenas aprimorar o gosto pela literatura, mas também promover valores de cidadania e direitos humanos.
Danielle, que leciona disciplinas relacionadas ao Direito para estudantes do curso de Administração do Campus VII, destaca que a experiência em sala de aula revelou uma dificuldade por parte dos alunos e alunas, que em geral não têm formação prévia na área jurídica, de entender a complexidade do Direito, caracterizado por uma linguagem técnica mais rebuscada e pouco intuitiva, e também a dificuldade de estabelecer e manter o hábito de leitura.
Conforme a professora, o objetivo principal do Clube de Leitura é usar a literatura para compreender os direitos e garantias fundamentais e a organização político-administrativa do Estado.
A iniciativa, inspirada pela visão do sociólogo e crítico literário brasileiro Antônio Cândido, busca destacar a literatura como um direito humano fundamental e uma ferramenta para a promoção da justiça social. Para a professora Danielle, a literatura não é apenas uma forma de entretenimento, mas também um instrumento consciente de desmascaramento das injustiças e de promoção de mudanças sociais.
"A literatura é um caminho de empatia e permite que os leitores se coloquem no lugar dos personagens e possam compreender posturas individuais e coletivas em diferentes contextos. Além disso, as obras literárias também denunciam abuso de poder, discriminações, e o Direito funciona como um contraponto, permitindo uma via para o exercício da equidade", comentou Danielle.
Ela explica que o grupo de leitura foi estruturado em dois momentos específicos, com duração de um semestre cada. No primeiro semestre, na disciplina introdutória ao Direito, os alunos têm acesso às obras "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", da autora Carolina Maria de Jesus, sendo complementada pela visão de Gabriela Prioli, na obra "Política É Para Todos". No segundo semestre, os alunos que estão em um nível mais avançado, já na segunda disciplina relacionada ao Direito, têm a oportunidade de escolher as obras literárias que lerão, desde que haja conexão entre o Direito e a Administração.
"Carolina Maria de Jesus era uma mulher negra, semianalfabeta, moradora de favela, mãe solo de três filhos e catadora de papelão, que a partir da sua escrita realista ganha, efetivamente, visibilidade mundial dentro dessa revelação de realidades, e a partir desse locus, onde tantos direitos são negados, nós efetivamente estabelecemos um paralelo do quão importante é garantir o exercício de direitos, sobretudo, pelas populações mais vulnerabilizadas. E toda essa reflexão é reforçada pela visão de Gabriela Prioli em sua obra, onde se apresenta de maneira simplificada a estruturação do Estado e dos partidos políticos, e a forma de participação política para além das eleições", explicou a professora.
Danielle Lucena enfatiza que, além dos conteúdos em destaque, a escolha das obras ainda promove o conhecimento produzido por mulheres, revelando o seu potencial de influência nas reflexões e nas transformações sociais. A iniciativa tem recebido apoio e reconhecimento dentro da comunidade acadêmica.
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"Eu só tenho elogios a tecer! É uma forma diferente de você realmente aprender a disciplina, praticar e não esquecer", comentou a aluna Maria Janaina, estudante do 5º período.
"Isso foi muito válido, foi uma grande experiência, que fez com que a gente aprendesse a valorizar a leitura, coisa que muitas vezes a juventude não prioriza hoje", destacou João Melky, aluno do 7º período.
"Nos faz ter uma visão de mundo mais abrangente e conhecer aquilo que a gente muitas vezes deixa de lado ou prefere não enxergar", disse a aluna Maria Eduarda, estudante do 6º período.
"Foi uma experiência única que me permitiu ter conhecimentos do Direito, conhecê-lo de forma mais descomplicada, em uma linguagem simples e associada ao dia a dia", comentou Maria Lucena, também do 6º período.
A professora ressaltou que todos os bons frutos alcançados no primeiro ano do projeto lhe instigam a seguir estimulando o protagonismo do alunos, o desenvolvimento da reflexão e do senso crítico, e construir, com isso, cidadania entre livros e leis.
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Filha do jornalista e historiador Damião Lucena, célebre figura da cidade de Patos, Danielle Lucena é formada em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Sousa, com atuação em Direito das Famílias em Perspectiva de Gênero; Direito Empresarial; Contratos; LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados); Registro e Gestão Jurídica de Marcas e Direitos Autorais.
Além disso, possui pós-graduação em Advocacia Feminista e Direitos das Mulheres e Advocacia Extrajudicial; Mestrado em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação; e Especialização em Direito e Processo do Trabalho.
Atuou como docente no Curso de Direito do Centro Universitário Unifip e atualmente leciona as disciplinas de Direito Administrativo e Instituição do Direito Público e Privado, para o curso de Administração do Campus VII da UEPB, em Patos.
Ativista pelos Direitos das Mulheres, ela também fundou a marca Mulheres Empreendem, uma agência de consultoria com foco na comunicação estratégica de marcas pessoais e corporativas para mulheres. Além disso, possui seu escritório de advocacia.
Por Felipe Vilar - Patosonline.com