A empresária Deolane Bezerra, presa em operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais, escreveu uma carta, publicada no Instagram na noite deste domingo (9), em que afirma não haver prova contra ela. No mesmo dia em que foi presa, ela divulgou a primeira carta.
"Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não há uma prova sequer", diz no trecho final da carta escrita à mão.
Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por uma quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar dinheiro de jogos ilegais, e Deolane participava desse esquema. O grupo foi alvo da terceira fase da operação "Integration", deflagrada na quarta-feira (4).
Foram expedidos 19 mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão para cumprimento em seis estados: Pernambuco, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba e São Paulo. A mãe de Deolane, Solange Bezerra, também está presa. As duas aguardam que o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) defina quem deve julgar o pedido de liberdade feito pela defesa delas.
Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por suspeita de lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
Em julho deste ano, Deolane abriu uma empresa de apostas com capital de R$ 30 milhões. Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no esquema. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.
Em 2022, Deolane foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ter relação com a Betzord, outra empresa de apostas esportivas na internet. Na época, a Betzord era investigada por "crime contra a economia popular e associação criminosa".
Um relatório da Polícia Civil aponta que as investigações da Operação "Integration", que prendeu a influenciadora Deolane Bezerra e a mãe dela, começaram em abril de 2023 após a apreensão de R$ 180.176,45 na banca de jogo do bicho Caminho da Sorte, localizada no Recife e que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do dono da bet Esportes da Sorte, que foi preso na quinta-feira (5) após se apresentar à polícia.
Em vídeos na internet, Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte.
O documento, de 7 de junho do ano passado, descreve a apreensão do dinheiro em espécie realizada em 1º de dezembro de 2022, no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife. No local, foi encontrado um caderno com anotações diárias das apostas e dos prêmios pagos do jogo do bicho e de futebol. No relatório, ao qual o g1 teve acesso, os policiais relatam que a banca também oferecia a opção de apostas em jogos esportivos.
O documento também aponta que, no site da Esportes da Sorte, havia a informação de que a página é operada pelo HSF GAMING N.V, registrada em Curaçao. Quem aposta na plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers – Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.
“Tal situação é uma burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à Holanda, um paraíso fiscal, mas que, na verdade, a Esportes da Sorte é do Recife, os clientes podem apostar em toda loja física da banca de bicho Caminho da Sorte e o CTO [diretor de tecnologia] e criador da HSF GAMING N.V, nasceu na capital pernambucana e aqui reside”, acrescentou o relatório.
Darwin Henrique da Silva Filho e a esposa, Maria Eduarda Filizola, se entregaram à polícia na quinta-feira (5). Antes de se apresentar em uma delegacia e ser preso, o dono da Esportes da Sorte divulgou uma carta aberta. No texto, ele disse que foi surpreendido com o mandado de prisão preventiva e está com a consciência tranquila.
A defesa do casal pediu habeas corpus para os dois, que segue sob análise do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
De acordo com o inquérito, a organização criminosa usava várias empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro realizada por meio de depósitos e transações bancárias.
Os recursos foram movimentados por meio de aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes de jogos ilegais. Segundo o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, as casas de apostas investigadas na operação contratavam influenciadores digitais para promover jogos de azar, que são proibidos por lei.
O dinheiro, conforme apontou a apuração, era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da compra de centenas de imóveis.
Foram identificadas transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que caracterizam indícios de crimes financeiros, sem suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo. Isso porque, para os investigadores, a maioria dos integrantes tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.
O escritório da advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a influenciadora afirmou que está sofrendo "uma grande injustiça" e que ela e a família são vítimas de preconceito.
Também procurada, a Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:
Fonte: g1