O pleito eleitoral recente expôs, mais uma vez, o poder corrosivo do dinheiro no processo democrático. O uso abusivo de recursos financeiros não apenas desequilibrou a disputa, mas também alimentou um círculo vicioso de dependência, que vai além das pessoas em situação de vulnerabilidade. Não foi apenas um crime político — foi um atentado à democracia e à soberania popular.
A relação entre "dinheiro demais e consciência de menos" reflete o impacto nefasto da corrupção eleitoral, que desequilibra o jogo democrático ao arregimentar não só os eleitores mais necessitados, mas também aqueles que, conscientes da realidade, se veem cada vez mais dependentes de favores e promessas políticas.
O poder econômico cria um exército de eleitores reféns, onde não apenas a fome e a miséria são exploradas, mas também o conformismo e o desalento de quem entende as consequências, mas sente que não há outra escolha, a não ser se deixar ser usado por esse sistema corrupto.
O mais alarmante, é que essas pessoas que se dizem "conscientes", mas que são parte dessa teia de chantagem e corrupção eleitoral, continuam a exigir um país sem corrupção, num claro exemplo de hipocrisia institucionalizada.
Nesse cenário, a cidade é a grande perdedora. A política deveria ser o espaço de construção de um futuro comum, mas, em vez disso, transforma-se em um ambiente controlado por interesses financeiros, onde o desenvolvimento real é impedido pela subordinação da população a esse ciclo de exploração da pobreza e cada vez mais dependência, gerando como consequência um enfraquecimento progressivo da consciência política e do senso de cidadania.
E assim, o que deveria ser um processo de participação popular transforma-se num espetáculo de manipulação, onde aqueles que detêm mais recursos financeiros ditam as regras, e o eleitor, cada vez mais inofensivo, vê sua voz se diluir em meio à barganha de poder e dinheiro.
*Misael Nóbrega de Sousa