Política ALTA
Inflação avança 1,31% em fevereiro, maior taxa para o mês desde 2003
Alta da inflação foi puxada principalmente pela energia elétrica residencial, que exerceu impacto de 0,56 ponto percentual no índice
12/03/2025 09h50 Atualizada há 3 horas
Por: Felipe Vilar Fonte: Metrópoles
Foto: Reprodução/Flickr

Os preços de bens e serviços do país subiram 1,31% em fevereiro, maior taxa para o mês desde 2003. O índice representa avanço de 1,15 ponto percentual da inflação em comparação a janeiro (0,16%). O Brasil tem inflação acumulada de 5,06% — ainda acima do teto da meta para este ano, que é de 4,50% (entenda o sistema de metas no fim do texto).

O resultado do mês passado ficou dentro do esperado por analistas do mercado financeiro. As previsões da Warren Investimentos e do relatório Focus eram de alta de 1,28% e 1,35%, respectivamente, em fevereiro.

A guinada da inflação em fevereiro foi influenciada especialmente pelo aumento de 16,80% na energia elétrica residencial, que exerceu impacto de 0,56 ponto percentual no índice geral.

É o que dizem os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que mede a inflação oficial do país —, divulgado nesta quarta-feira (12/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O que é IPCA

Energia volta a pesar no bolso

Após apresentar recuo significativo de -3,08% em janeiro, o grupo Habitação voltou a acelerar em fevereiro e ficou a 4,44%. Em termos gerais, foi o maior impacto no índice no mês passado, de 0,65 ponto percentual.

Os preços da energia elétrica subiram 16,80% em fevereiro, após caírem 14,21% no mês imediatamente anterior. Isso ocorreu devido ao fim do Bônus de Itaipu.

“Essa alta se deu em razão do fim da incorporação do Bônus de Itaipu, que concedeu descontos em faturas no mês de janeiro. Com isso, o subitem energia elétrica residencial passou de uma queda de 14,21% em janeiro para uma alta de 16,80% em fevereiro”, explica Fernando Gonçalves, gerente do IPCA.

Além do fator das contas de luz, o grupo Habitação registrou alta na taxa de água e esgoto (0,14%), em razão dos reajustes feitos em alguns estados.

Como a inflação se comportou?

Quatro dos noves grupos de produtos e serviços pesquisado concentram 92% do resultado da inflação de fevereiro, de acordo com o IBGE. São eles: Habitação, Educação, Alimentação e bebidas e Transportes.

Confira o resultado, por grupos, do IPCA:

Veja o impacto, por grupos, na inflação em fevereiro:

Educação sobe com início do ano letivo

Os preços do grupo da Educação tiveram alta de 4,70% e impacto de 0,28 ponto percentual no índice geral. O IBGE atribui esse resultado aos reajustes das mensalidades escolares no início do ano letivo.

Os destaques observados vão para: ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%).

Alimentação e Transportes

O grupo Alimentação e bebidas avançou pelo sexto mês consecutivo, com preços subindo 0,70%. A alimentação no domicílio (ou seja, o preço dos produtos nos mercados) cresceu 0,79%, o que mostra uma certa desaceleração em comparação a janeiro (1,07%).

Os destaques vão para:

“O café, com problemas na safra, está em trajetória de alta desde janeiro de 2024. Já o aumento do ovo se justifica pela alta na exportação, após problemas relacionados à gripe aviária nos Estados Unidos, e, também, pela maior demanda devido à volta às aulas. Além disso, o calor prejudica a produção, reduzindo a oferta”, esclarece Gonçalves.

A alimentação fora do domicílio também arrefeceu em fevereiro, com preços indo a 0,47%. Tanto o lanche (0,66%) quanto a refeição (0,29%) tiveram variações inferiores às de janeiro (0,94% e 0,58%, respectivamente).

No grupo dos Transportes, o resultado foi influenciado pelo aumento nos preços dos combustíveis (2,89%). Entre eles, as altas no óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%). Por outro lado, apenas o gás veicular (-0,52%) apresentou redução.

INPC tem alta de 1,48% em fevereiro

A inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 1,48%, após registrar variação nula em janeiro. Esta foi o maior valor para fevereiro desde 2003 (1,46%).

Nos últimos 12 meses até janeiro, o INPC acumula alta de 4,87%. No ano, o acumulado é de 1,48%.

O índice serve de referência para o reajuste do salário mínimo e de benefícios sociais.

O INPC é um indicador que mede a variação média dos preços de um conjunto específico de produtos e serviços consumidos pelas famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos mensais.

A inflação para o mercado

O mercado financeiro segue elevando a projeção de inflação referente a 2025. Segundo o relatório Focus mais recente, a estimativa dos analistas consultados pelo Banco Central (BC) para o IPCA passou de 5,65% para 5,68%.

Confira as expectativas dos economistas:

Além do mercado, o próprio BC — que tem o papel de controlar o avanço da inflação por meio da taxa de juros (a Selic) — informou que há 50% de probabilidade de a meta inflacionária ser descumprida neste ano.

Em relatório de dezembro, o órgão avaliou que a chance de a inflação estourar o teto da meta subiu de 28% para 50%.

Novo sistema de metas: meta contínua

A partir deste ano, a meta de inflação do Brasil é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Se o IPCA acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.

Em 2025, a meta inflacionária é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual – isto significa piso de 1,5% e teto de 4,5%. Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.

O objetivo é estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado por:

Se a meta for descumprida, o BC precisa divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda — neste caso, Fernando Haddad — explicando as razões para o estouro. A autoridade monetária contém o avanço dos preços por meio da taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias. A próxima reunião do Copom será nos dias 18 e 19 de março.

Meta pode ser descumprida em junho, avalia BC

Em janeiro, o BC admitiu a possibilidade de a inflação acumulada em 12 meses ficar acima do teto do intervalo de tolerância da meta durante seis meses seguidos (até junho) — o que caracterizaria o descumprimento da meta inflacionária em 2025.

Se a inflação continuar avançando, o valor acumulado em 12 meses permanecerá “acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos”. “Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, ressaltou o órgão.

Fonte: Metrópoles