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Stablecoins e inclusão financeira: oportunidades para o Sertão com o Drex
03/10/2025 10h04
Por: Matheus Oliveira Fonte: Serpier
Foto de André François McKenzie na Unsplash

No cenário atual de rápida digitalização dos serviços financeiros, as stablecoins têm se consolidado como peças centrais para transações internacionais e locais. Enquanto moedas digitais tradicionais oscilam em valor, as stablecoins oferecem estabilidade ao se vincular a ativos de referência, como o dólar.

Em paralelo, o projeto Drex, conduzido pelo Banco Central do Brasil, surge como alternativa regulada e com enfoque em digitalizar o real. A simultaneidade dessas inovações abre espaço para discutir como tais instrumentos podem dialogar e, juntos, promover maior inclusão financeira em regiões historicamente afastadas do sistema bancário tradicional, como o Sertão nordestino.

Mercado global em expansão

Com um mercado que já alcança centenas de bilhões de dólares, as stablecoins se consolidaram como ferramentas de liquidez imediata em várias jurisdições. Essa expansão é liderada por unidades como USDT e USDC, que somam juntos a maior parte da circulação.

Notícias internacionais sobre tendências de mercado, como relatado em análises que também publicam noticias Bitcoin, ajudam a notar que as stablecoins mantêm relevância pela combinação de rapidez e previsibilidade. Para o Sertão, conectar-se a esse ecossistema significa criar possibilidades para agricultores, pequenos comerciantes e famílias de migrantes que dependem de transferências seguras para sustentar o dia a dia.

Integração com o Drex nacional

A proposta do Drex é construir um ambiente digital baseado em tecnologia de registro distribuído, mas com governança centralizada pelo Banco Central. Essa combinação busca reduzir riscos de volatilidade e facilitar auditoria pública. Ao interoperar com stablecoins internacionais, o Drex poderia viabilizar operações de câmbio instantâneas, reduzir dependência de intermediários e garantir mais transparência.

Para a população do Sertão, onde agências bancárias são escassas, a chance de realizar pagamentos e receber valores de forma digital segura se mostra transformadora. Essa integração também poderia ampliar a competitividade de mercados locais ao conectar comerciantes rurais a cadeias de fornecimento em outras regiões.

Remessas como vetor de impacto social

As remessas de migrantes têm papel central no orçamento de muitas famílias em áreas rurais do Nordeste. Trabalhadores que se deslocam para centros urbanos ou para o exterior dependem de meios acessíveis e de baixo custo para enviar recursos. Hoje, taxas cobradas por intermediários podem comprometer parte significativa do valor remetido.

Stablecoins, ao permitirem envio quase imediato de valores e sem perdas significativas na conversão, oferecem alternativa eficaz. Aliadas ao Drex, podem criar uma rede híbrida em que familiares recebam valores diretamente em carteiras digitais vinculadas ao real, diminuindo distâncias financeiras que antes pareciam intransponíveis. Esse dinamismo liberta recursos para educação, saúde e reinvestimento produtivo local.

Pagamentos para produtores rurais

Além das remessas, o tema ganha relevância nos pagamentos realizados a produtores rurais. Vendedores de leite, carne ou hortaliças em pequenas comunidades ainda esperam longos períodos até a liquidação de compras pelas cooperativas, perdendo liquidez imediata. A utilização de stablecoins, lastreadas em moedas globais, poderia acelerar o processo, enquanto o Drex ofereceria ponte direta para o real de forma regulamentada.

Essa agilidade liberaria capital de giro para reinvestimento rápido em insumos e equipamentos, fortalecendo a produtividade. Para o Sertão, onde a sazonalidade climática impõe desafios constantes, encurtar o intervalo entre produção e recebimento de recursos é mais do que uma conveniência: torna-se um fator de sobrevivência econômica e social.

Micropagamentos e serviços locais

Aplicativos de celular estão cada vez mais presentes nas rotinas de jovens e adultos, inclusive em cidades interioranas. Com eles, práticas como pagamentos fracionados por serviços pequenos, recargas de energia pré-paga, transporte motorizado compartilhado e até consultas médicas por teleatendimento, revelam demanda por sistemas eficazes de micropagamentos.

As stablecoins oferecem precisão nesse tipo de operação, permitindo transferências de valores reduzidos sem taxas inviáveis. Já o Drex, pelo caráter oficial, poderia legitimar tais pagamentos no dia a dia e evitar problemas de aceitação. Ao combinar essas duas frentes, abre-se espaço para que comunidades rurais aproveitem soluções da economia digital adaptadas às suas necessidades específicas, sem barreiras de escala mínima.

Educação financeira e confiança regulatória

Tão importante quanto estruturar tecnologia é assegurar compreensão e confiança entre os usuários. Iniciativas de educação financeira tornam-se fundamentais para garantir que os moradores do Sertão usem essas ferramentas de forma consciente, compreendendo riscos de segurança digital e gestão de recursos.

A regulamentação internacional, exemplar nos avanços do MiCA na Europa ou no GENIUS Act em discussões norte-americanas, fornece diretrizes sobre transparência, reserva de ativos e combates à lavagem de dinheiro. Ao adotar experiências semelhantes, o Brasil pode fortalecer o Drex e sua eventual interação com stablecoins. O resultado seria um ambiente de confiança que, além de proteger o consumidor, encorajaria mais agentes econômicos locais a adotar práticas digitais seguras e eficientes.

Perspectivas para o Sertão e desafios futuros

Construir um ecossistema em que stablecoins dialoguem com o Drex exige superação de obstáculos técnicos e sociais. Infraestrutura de internet ainda é incipiente em muitos municípios, e o acesso a smartphones de qualidade não é universal. Nesse contexto, políticas públicas precisam financiar conectividade e distribuir conhecimento, aproximando residentes de ferramentas que realmente façam diferença.

Ao mesmo tempo, medidas de proteção contra crimes digitais devem caminhar junto com a difusão massiva. Se esses pontos forem tratados de forma estratégica, vislumbra-se um Sertão mais integrado à economia nacional e global. A possibilidade de acessar mercados, liquidar vendas e receber remessas de modo confiável inaugura uma nova etapa no processo de inclusão financeira regional.