Uma operação coordenada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul foi deflagrada nesta segunda-feira (8) em João Pessoa, como parte de uma investigação que apura a atuação de uma organização criminosa interestadual especializada na venda ilegal do medicamento Cytotec (misoprostol), utilizado na prática de abortos clandestinos, além da oferta de orientações on-line às gestantes durante os procedimentos.
A ação integra o Projeto Impulse, ligado ao Enfoc do Ministério da Justiça, com participação de equipes da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência da Senasp. Na Paraíba, a operação contou com o apoio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO).
Segundo as investigações, integrantes do esquema foram identificados em diversos estados, incluindo a Paraíba. O grupo utilizava redes sociais, aplicativos de mensagens e outras plataformas digitais para ofertar o medicamento, negociar valores e orientar mulheres remotamente. As investigações apontam que a atuação era contínua e altamente organizada.
A origem da apuração ocorreu após um atendimento hospitalar registrado no município de Guaíba (RS), no dia 2 de abril. Uma mulher deu entrada na unidade de saúde com dores intensas e acabou expelindo dois fetos, após relatar que havia ingerido misoprostol adquirido ilegalmente pela internet.
Em depoimento, a vítima afirmou que contratou um pacote de “suporte técnico” on-line para realizar o aborto e que recebia orientações de uma suposta profissional. Durante o procedimento, a mulher ficou sem resposta por parte da orientadora em momentos críticos, o que a levou a buscar atendimento médico de urgência.
A gestante informou ainda que encontrou o grupo após fazer buscas no TikTok sobre gravidez indesejada. Posteriormente, foi adicionada a um grupo de WhatsApp chamado “Sinta-se Acolhida”, que reunia mais de 250 mulheres, de diferentes regiões do país, funcionando como espaço de troca de relatos após os procedimentos.
De acordo com a polícia, os integrantes da organização cobravam valores que variavam entre R$ 830 e R$ 2.300, dependendo do estágio da gravidez. Somente os administradores eram autorizados a negociar a venda do medicamento e a dar as instruções às gestantes.
As autoridades também investigam a origem do Cytotec, já que o medicamento é de uso restrito ao ambiente hospitalar, o que levanta suspeitas de desvio e tráfico de fármacos.
Durante a operação, foi cumprido mandado de busca e apreensão em João Pessoa, contra uma investigada suspeita de integrar o grupo criminoso. A operação ocorreu simultaneamente em sete estados.
A delegada Karoline Calegari, responsável pela investigação no Rio Grande do Sul, destacou que o elevado número de mulheres envolvidas aponta para uma movimentação financeira significativa, além do risco extremo à saúde das gestantes submetidas aos procedimentos clandestinos.
A Polícia Civil segue apurando a participação individual de cada suspeito e reforça que a ação tem como objetivo combater o desvio de medicamentos, desarticular o esquema criminoso e proteger a integridade física das mulheres.
Por Patos Online
Com informações da DRACO e Portal TH+