Tradição, de acordo com o dicionário, significa ato ou efeito de transmitir ou entregar de geração para geração, mais especificamente fatos, lendas, ritos, usos, costumes. Toda cultura tem suas particularidades e tradições: no México, eles celebram o Dia dos Mortos; na Irlanda, o Dia de São Patrício é muito importante para os nativos.
O Brasil, recheado de culturas e excentricidades, não é diferente. Uma das tradições mais notórias e populares pertence ao Nordeste: as festas juninas. Os dias de Santo Antônio, São Pedro e São João são celebrados com muito forró, comidas típicas e, claro, fogueiras.
Como dito anteriormente, as tradições passam de geração para geração, portanto elas têm suas bases muito antigas. E em alguns casos, são completamente ultrapassadas ou simplesmente não apresentam o mesmo contexto de antigamente. No caso das festas juninas, a fogueira é um claro exemplo de que a nossa tradição pode estar fora da realidade.
Possivelmente o símbolo mais forte do mês de junho, a “fogueira de São João”, como aponta a lenda, foi acesa por Santa Isabel, mãe de São João Batista, para anunciar o nascimento de seu filho para sua amiga Maria, mãe de Jesus. Trazida pelos jesuítas ao Brasil e dona de simpatias e rituais pagãos, essa tradição simbólica se tornou um perigo recentemente.
A fumaça que é emanada poderia ser inofensiva há séculos atrás, mas atualmente ela tem um perigo maior. Numa sociedade que cada vez mais lota as grandes cidades e centro urbanos, é bastante inviável acender uma fogueira, apesar da importância sociocultural.
O pneumologista Alexandre Araruna reforça que todo tipo de fumaça, seja da fogueira de São João, do cigarro tradicional ou dos cigarros eletrônicos, é tóxica. Os nossos pulmões são feitos para consumir oxigênio em sua grande maioria. Outras substâncias, não.
“A inalação deste produto, representado pelas substâncias físicas, pequenas aos nossos olhos, elas vão adentrando no nosso trato respiratório. Elas são danosas. Elas dão desconforto respiratório, podem dar tosse, podem dar uma agonia, um cansaço em qualquer ser humano que não tenha qualquer tipo de doença”, afirmou.
“Naqueles portadores de doença do trato respiratório, uma asma, uma bronquite, um enfisema, ou que já tenha tido alguma coisa mais importante do ponto de vista respiratório na sua infância ou na idade adulta, esses, de forma mais intensa ainda, o trato respiratório vai se queixar”, revelou Alexandre Araruna.
Num país onde mais de 700 mil pessoas morreram por uma doença respiratória, a vida não é mais a mesma de antes. Mesmo que a Covid-19 — e a pandemia — tenham superado o estado de calamidade púbica, os cuidados para aqueles que são de grupo de risco ou tiveram sequelas da doença continuam.
No contexto de festas juninas, o pneumologista reforça os cuidados para aqueles que estão gripados, resfriados ou com sintomas de Covid-19. Esses tipos de doenças são muito piores, pois atacam diretamente a traqueia, os brônquios e o pulmão — ou Trato Respiratório Inferior —, não a cavidade nasal, a faringe ou a laringe — o Trato Respiratório Superior.
“Se você tiver resfriado, gripado ou com Covid, ainda que seja de forma mais branda desses vírus e chegar próximo a inalar esses produtos em decorrência da combustão das fogueiras, a gente sabe que o incômodo é muito maior”, enfatizou Alexandre Araruna
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) recomendou, nesta última segunda-feira (19), a proibição de fogueiras e fogos de artifício para 43 municípios do estado paraibano. O órgão alega que a tradição “pode causar e agravar problemas de saúde” e ainda “polui as cidades”.
Os nove promotores envolvidos, do litoral ao Sertão, fizeram suas recomendações de acordo com a realidade de cada município. Mas de uma maneira geral, as maiores preocupações estão voltadas justamente aos perigos para os portadores de síndromes respiratórias. Além disso, outros se atentam ao risco de desmatamento, por causa da utilização das madeiras no processo.
Apesar disso, a recomendação serve apenas para as áreas urbanas. Na zona rural é permitido, mas não é recomendável. Para os médicos, a preocupação maior está centrada nos grandes centro urbanos, onde a possibilidade de pessoas afetadas e complicações para a saúde pública são muito maiores.
Leonardo Abrantes – MaisPB
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