Neste sábado, 22 de julho, o Patosonline.com foi procurado pela jovem Fernanda Morais, de 27 anos, residente na cidade de Patos, que pediu para expor o relato feito por ela em vídeo, onde a mesma fala sobre um momento que deveria ser especial e alegre, o nascimento de sua filha, Maya Maria, mas que acabou se transformando em um pesadelo e com sequelas ainda incalculáveis, devido a violência obstétrica sofrida durante o parto.
Fernanda conta que durante a gestação tudo ocorreu tranquilamente, sem intercorrências, e na tarde do dia 06 de maio desse ano (2023), deu entrada na Maternidade de Patos após sentir contrações. Ao chegar na unidade, o exame de toque apontou 3 centímetros de dilatação, sendo orientado que ela continuasse lá. Por volta das 17h do mesmo dia, a bolsa estourou e ela começou a passar mal, foi feito o toque novamente, que apontou 4 centímetros de dilatação. A médica, então, mandou interná-la para que fosse feito o parto normal.
Ela disse que ao chegar na sala de pré-parto as dores começaram a aumentar de maneira insuportável, mas não havia a dilatação ideal: "A médica que estava me acompanhando, que deveria estar me orientando, dificilmente ia na sala e tava uma coisa insuportável já. Eu tava sendo orientada pelos enfermeiros, e eu sempre fazia muito esforço, tudo que eles pediam, e chegou uma hora que minha barriga começou a ficar dura e eu não dilatava", disse.
Fernanda relata que o enfermeiro chamou a médica para fazer novamente o exame de toque, que apontou apenas 6 ou 7 centímetros de dilatação. Nesse momento, a paciente pediu para que fosse feita a cesária, pois ela não aguentaria ter o parto normal, porém, a médica disse que ela tinha capacidade de ter a bebê normal.
"Eu já não estava mais aguentando, foi onde pedi a ela para fazer a cesária, mas as palavras que a mesma usou foi: 'Não é assim que funciona, aqui é o hospital da criança e prevalece o parto normal. Você é jovem, tem capacidade de ter sua bebê, todas que chegam aqui dizem a mesma coisa que você está dizendo. Tá demorando assim, porque é sua primeira filha'. Passou uns 3 minutos sentada na minha frente, depois saiu e eu não a vi mais", disse.
A jovem disse que passou mais algumas horas convivendo com a dor e chegou a implorar para a médica realizar a cesária, mas a doutora repetiu o discurso anterior. Mais algumas horas depois, ao ver que o parto normal não iria acontecer e com os batimentos da bebê caindo, o enfermeiro informou que ela iria para a sala de parto e tentariam tirar a criança com urgência, isso por volta das 01h30min do dia 07 de maio.
"Ele me levou pra sala de parto e disse que teria que tirar ela, ainda de maneira normal, só que não tinha como eu ter ela, porque as contrações não estavam durando, ela não tinha mais força e eu também não tinha mais força, e foi aí onde ele ligou pra médica, desesperado, chamando a mesma", relatou Fernanda.
Quando a médica chegou na sala de parto, Fernanda conta que a criança estava presa no canal vaginal e não conseguia sair. A profissional então tentou puxá-la com o fórceps (instrumento cirúrgico), mas sem êxito. Ela tentou tirar a bebê mais uma vez e conseguiu, no entanto, a criança entrou em sofrimento fetal (caracterizado pela falta de oxigênio para o feto) e teve que ser reanimada, sendo levada imediatamente para a UTI e submetida à entubação.
"Eu nem peguei nela, não tive nem o prazer de ver minha filha chorar. Ela foi reanimada e já foram levando ela pra UTI, pra ser entubada, foi aí que começou o pesadelo nas nossas vidas. Um momento que era pra ser um dos mais felizes da minha vida se transformou num pesadelo, porque o que eu passei ali foi um pesadelo", disse Fernanda.
A jovem mãe falou, do que classifica de negligência médica da profissional que deveria estar lhe acompanhando e disse que uma conduta diferente poderia ter mudado completamente o desfecho da história.
"Pra uma profissional da saúde, que fez o juramento em salvar vidas, ajudar mães a dar luz, é muito revoltante, porque ela tava ali pra fazer o papel dela e ela tinha a obrigação de me ajudar. A partir do momento que ela viu que eu não estava conseguindo ter minha filha, deveria ter me levado pra uma sala de cirurgia, ter feito a cesária e evitado tudo isso, só que em momento algum ela me acompanhou ou ficou comigo na sala. [...] Ela tinha a obrigação de saber o que fazer naquele momento, se ela quisesse, teria evitado tudo o que aconteceu", comentou.
Fernanda relatou que teve alta após alguns dias, mas a criança permaneceu entubada na UTI. Passados mais alguns dias, a criança saiu da UTI e a mãe foi chamada para ficar com ela na Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (UCINca), foi quando elas tiveram o primeiro vínculo afetivo de mãe e filha. A bebê, então, recebeu alta e pôde vir pra casa.
Há cerca de 25 dias atrás, já no ambiente familiar, o pesadelo começou novamente, a criança teve sua primeira crise convulsiva nos braços da mãe. Maya foi levada para o Hospital Infantil, onde foi realizada uma tomografia de crânio que constatou uma alteração no lado esquerdo e apontou que as convulsões estavam relacionadas com a hipoxia (condição em que não chega oxigênio suficiente às células e tecidos do corpo) sofrida no momento do parto.
O médico do hospital orientou Fernanda a procurar um especialista e a família marcou uma consulta com uma neurocirurgiã de Campina Grande, que pediu alguns exames e estes constataram realmente a alteração no lado esquerdo do crânio.
A mãe disse que Maya vem tendo de 12 a 13 crises convulsivas por dia e mesmo com a medicação não consegue dormir. A neurocirurgiã informou que devido a isso, a criança corre o risco de desenvolver alguma síndrome, mas como ela ainda é muito jovem, só após os dois anos de idade será possível ver o nível de sequelas.
A partir de agora, até ela chegar nessa idade, a médica recomendou que a criança realize no mínimo duas sessões de fonoaudióloga e fisioterapeuta bobath por semana. Fernanda disse que esse tipo de fisioterapeuta não tem na cidade de Patos e eles precisam ir até Campina no mínimo duas vezes por semana.
"Ela tinha tudo pra ser uma bebê saudável, não fosse pela negligência médica, não fosse a preguiça, pela falta de empatia de uma médica, de uma pessoa que estudou para aquilo, que deveria estar ali não só pelo dinheiro, mas por amor à profissão, até porque é uma vida e ela não sabe o mal que causou à nossa família. Quem é mãe consegue sentir um pouquinho do que tô falando, você ter sua filha nos braços e do nada sua filha começar a convulsionar, sem conseguir dormir, se esticando e gritando, é terrível!", disse aos prantos.
"Eu só vim aqui contar esse relato pra que vocês não deixem isso passar, pra que outras mães não passem pelo mesmo que estou passando, porque muitas vezes você vê o storys de uma médica dessa, a gente pensa que é uma pessoa competente, responsável, e não. Quando ela coloca aquela farda, pega naquele celular, é só mais uma que tá entrando ali, se não tiver status, eles não estão nem aí, não são todos, mas nesse caso, sim, foi o que aconteceu", finalizou.
Ao Patosonline.com, Fernanda disse que contratou um advogado e está aguardando o prontuário de internação, que foi solicitado e pediu-se um prazo de 15 dias para ser entregue, para que daí em diante possa ingressar com uma ação judicial. Além disso, uma denúncia contra a médica será formalizada no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Durante a reportagem, ela foi orientada pelo seu advogado a não citar o nome da profissional médica envolvida no caso.
ASSISTA ABAIXO AO RELATO NA ÍNTEGRA:
*O vídeo em questão foi produzido pela própria mãe.
O Patosonline.com entrou em contato com a diretora técnica da Maternidade Dr. Peregrino Filho, Séfora Cândida, e a mesma informou que na próxima segunda-feira (24) irá solicitar o prontuário da paciente em questão, para analisar, e conversar também com a equipe que estava com ela no dia do atendimento, para que só após, possa emitir alguma nota se posicionando.
Por Patosonline.com
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