A Copa do Mundo de Clubes da FIFA, realizada nos EUA, tem mostrado ao mundo um nível de enfrentamento que o futebol precisava ver há muitos anos. Mesmo com os modelos anteriores da Copa Intercontinental de Clubes — conquistada por Santos, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Internacional e Corinthians — ou com o formato ampliado com representantes de todos os continentes — vencido apenas pelo Corinthians, em 2000 — havia a sensação de que faltava uma régua mais criteriosa para definir quem era, de fato, o melhor time do mundo.
Na realidade, não estávamos acostumados a ter confrontos com alta exigência de desempenho dos nossos jogadores, como vimos nos jogos entre Palmeiras x Porto (Portugal), Fluminense x Borussia Dortmund (Alemanha), Botafogo x PSG (França, campeão da Champions League) e Flamengo x Chelsea (Inglaterra). Havíamos nos desacostumado a esse nível de exigência no modelo anterior, pois nem sempre nossos clubes chegavam às decisões.
As recentes vitórias do Botafogo sobre o PSG e do Flamengo sobre o Chelsea serviram para lavar a alma do futebol brasileiro e mostrar ao mundo que nossos clubes ainda merecem respeito. Essas vitórias vieram com atuações marcadas por disciplina tática e autoridade, em que os brasileiros, como diz o jargão futebolístico, “colocaram a faca nos dentes” e partiram para a guerra contra os europeus, nitidamente apontados pela mídia esportiva mundial como favoritos.
É verdade que, se os enfrentamentos fossem frequentes, possivelmente perderíamos mais vezes do que ganharíamos, pois, com a força de uma moeda seis vezes mais valorizada que o real, os europeus reúnem os craques do nosso país e do mundo todo, formando verdadeiras seleções transnacionais.
No entanto, fica claro que, se tivéssemos confrontos mais frequentes contra esses clubes — como agora, de forma oficial — não passaríamos quase 13 anos sem uma única vitória, como vínhamos amargando.
O futebol de hoje mudou. E a competição, que surgiu da rivalidade entre FIFA e UEFA, ainda que tardiamente, evidencia isso. Infelizmente, gerações de craques que vestiram camisas gloriosas em todo o mundo deixaram de mostrar seus talentos ao planeta, por falta desse tipo de torneio que atrai os olhares apaixonados do mundo da bola.
A boa campanha dos clubes brasileiros nesta competição não apenas surpreende o mundo, como também prova a nós mesmos que, mesmo em desvantagem e diante de grandes dificuldades, é possível vencer verdadeiras seleções formadas no futebol europeu — seleções essas que, muitas vezes, nos olham com desprezo, mas passam a nos respeitar quando são surpreendidas.
Se vamos ganhar? Na realidade, é preciso acreditar muito. Mas a taça não será conquistada apenas ao chegar à final, e sim ao medir forças com as melhores equipes do mundo, resgatando a imagem do futebol brasileiro, tão desgastada na mídia internacional depois da derrota por 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014, dos fracassos recentes da nossa seleção e da pouca competitividade dos nossos clubes.
Resgatar a autoestima dos nossos clubes é fundamental para o processo de renascimento do nosso futebol. E nada melhor do que uma competição importante, que atrai os olhos do mundo inteiro, para que isso aconteça e os frutos sejam colhidos no futuro.
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