A esporotricose é uma doença infecciosa causada pelo fungo saprófito, que habita o solo e a matéria orgânica em decomposição, denominado Sporothrix schenckii. A infecção pode ocorrer em várias espécies animais, mas é no gato que a enfermidade assume maior importância, devido a frequência e habitual gravidade dos casos clínicos, além da possibilidade de transmissão ao ser humano. Desta forma, considerando a casuística da doença em gatos e os recentes casos em seres humanos, faz-se oportuno esclarecer alguns pontos sobre essa doença endêmica na região.
Nos gatos, a esporotricose geralmente se estabelece por meio de feridas traumáticas contaminadas com o elemento fúngico. Arranhaduras e mordeduras são fatores importantes para transmissão da doença, devido ao habitual comportamento ferino e territorialista desses animais. Além disso, devido ao hábito fastidioso de limpeza, alguns gatos podem se autoinocular.
Três principais formas clínicas são descritas para a esporotricose felina: cutânea, cutânea linfática e disseminada; combinações dessas formas podem coexistir em um animal. As lesões geralmente caracterizam-se por nódulos ou úlceras, que se desenvolvem principalmente na região da cabeça, orelhas, membros e cauda. Dermatite e paniculite piogranulomatosas são o principal achado diagnóstico. Um fator marcante nas lesões dos felinos é a abundância de elementos fúngicos, que demonstra a grande propensão desses animais em transmitir a infecção.
Os seres humanos adquirem a infecção através do contato com meios contaminados ou animais infectados, os quais usualmente introduzem os esporos fúngicos através de lesões cutâneas, como arranhaduras e mordeduras. Por isso, a infecção cutânea é considerada a forma mais comum em seres humanos, sendo mais frequentemente afetada a pele das mãos ou dos braços. Contudo, as lesões traumáticas não são indispensáveis para que a infecção ocorra, o que faz dessa uma doença relativamente frequente em seres humanos. Vale salientar que a doença é tratável, por meio de antifúngicos comerciais que são ofertados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. O tratamento costuma ser prolongado e o diagnóstico deve ser realizado preferencialmente no início dos sinais clínicos para evitar a incidência de complicações.
O caso veiculado na impressa há alguns dias (https://www.patosonline.com/primeiro-caso-de-doenca-contagiosa-e-transmitida-por-animais-de-rua-e-registrada-em-patos/) definitivamente não é o primeiro na região, nem tampouco será o último. De fato, trata-se da micose subcutânea mais comum em seres humanos em toda a América Latina. No Brasil, a esporotricose é uma doença zoonótica emergente inserida na lista de agravos de notificação compulsória. Pacientes humanos com a doença já foram relatados em 25 dos 26 estados brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. A ocorrência de casos individuais e surtos da doença em seres humanos têm sido associada a fatores epidemiológicos ambientais e de sanidade animal, como o clima quente e úmido e a presença de animais errantes nas zonas urbanas.
Por fim, destacamos que a medida mais adequada para controlar essa zoonose consiste na conscientização dos tutores e da população para a guarda responsável dos animais. Nesse sentido, a atuação das autoridades públicas faz-se imprescindível na adoção de medidas de sanidade animal e Saúde Pública, como a castração, a restrição do acesso dos felinos à rua, o diagnóstico e tratamento de animais doentes, bem como a destinação correta de cadáveres de animais acometidos.
Patos, Paraíba, 06 de outubro de 2021.
Assinam esta nota,
Erick Platiní Ferreira de Souto
Médico Veterinário
Mestre em Medicina Veterinária
Doutor em Ciência e Saúde Animal
André Lopes de Lima
Biomédico
Especialista em Hematologia Clínica
Mestrando em Ciência e Saúde Animal
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