Após o primeiro turno das eleições de 2022, a Bolsa de Valores brasileira abriu em alta com valorização do real, crescimento do Ibovespa e de ações de empresas estatais. O resultado foi um reflexo das urnas, que mostraram que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), possuía uma margem maior do que o esperado pelas pesquisas, apesar de terminar na segunda colocação. Contudo, essa perspectiva de continuidade da gestão atual fez com o mercado financeiro acenasse positivamente, uma vez que o plano de privatizações proposto por Bolsonaro é de interesse do mercado. Em entrevista à Jovem Pan, o economista e membro da Associação Portuguesa de Ciência Política Igor Macedo de Lucena aponta que esse movimento está ligado a um desejo por estabilidade, continuidade e também das privatizações das estatais. “O mercado financeiro se move baseado em expectativas futuras. Quando os resultados mostraram que Jair Bolsonaro tinha mais força política do que as pesquisas mostravam, o mercado entendeu como uma possibilidade de continuidade do governo e das propostas em andamento. A quantidade de candidatos eleitos no aspecto política mais à direita, mais liberal e com inclinação para privatização de estatais, também foi um sinal positivo para a abertura econômica. O segundo turno passa uma sensação de que a governabilidade do Bolsonaro vai ser mais fácil. Projetos devem ser passados de forma mais tranquila do que com o ex-presidente Lula, que vai ter uma forte rejeição do ponto de vista ideológico. O mercado teve a garantia de que as pautas liberais, ainda que não avancem, estão consolidadas. Independente de quem ganhe, a pauta liberal e o conservadorismo econômico vão prevalecer”, pondera.
Especialista em gestão financeira e sócio do escritório Arton Advisers, João Sá observa que a formação do Congresso foi uma surpresa positiva para o mercado, em especial no Senado. Mesmo com a renovação e troca dos políticos, pela primeira vez em muitos anos houve um peso maior dos congressistas de direita. “Isso trouxe muito conforto para o Brasil porque tende a ser uma continuação do que foi construído nos últimos quatro anos. Grandes avanços feitos na última gestão dificilmente vão ser mudados rapidamente em um primeiro momento, dado essa composição. Essa sensação reconfortante que o mercado teve é porque, independentemente de quem esteja na Presidência, você vai ter um Senado e uma Câmara mais conservadores, e isso gera muita confiança para o Brasil. Mesmo que haja uma troca de governo, haverá uma blindagem do Congresso, favorecendo pautas já em andamento. Os aliados do governo não vão querer abrir mão dos projetos. Vai ser preciso uma articulação muito grande para qualquer pauta ser colocada em prática. Se tivermos um governo a fim de realizar algumas mudanças e um Congresso não alinhado, vai tomar tempo para compor e ter aprovação. Não vai ser fácil. Essa também poderá ser a primeira vez que teremos uma troca de presidente com o Banco Central independente, que vai poder focar na inflação e não ser usado como manobra para política fiscal”, afirma.
Igor complementa que a vitória de Lula pode gerar uma reação negativa no mercado financeiro. Já a reeleição de Bolsonaro tende a ser vista com olhos positivos, por uma questão de estabilidade nos projetos políticos. Para ele, é fundamental que o petista anuncie quem pretende colocar no Ministério da Fazenda, fato que terá grande peso nas reações. Basta lembrar que o anúncio da entrada de Paulo Guedes no governo de Bolsonaro foi um pilar importante em sua eleição. “Com o ‘Orçamento Secreto’ e emendas, deputados têm um poder político e financeiro grande, diferente de quando Lula estava na Presidência. Ele ainda pode fazer uma composição no Congresso favorável ao seu plano de governo, mas não vai ter tranquilamente a maioria absoluta. Ainda temos um cenário econômico adverso no exterior, o que faz com que a ideia de que Lula pode repetir seus feitos econômicos do primeiro mandato seja improvável. O plano econômico dele ainda é uma incógnita, não se sabe que tipo de política ele vai aplicar na prática”, ressalta. Por fim, o economista defende que o bom desempenho do Brasil na economia depende de avanços na reforma administrativa da máquina pública e da reforma tributária. “Reforma e estabilidade são as palavras de ordem, sendo um norte para o investidor, uma forma de aumentar a exportação brasileira e estimular o investimento externo. Isso sinaliza para estrangeiros que, no futuro próximo, a probabilidade de lucratividade será maior, estimula o crédito interno e gera um ciclo econômico positivo.”
Sá ainda indica que o Brasil é a única região com juro real positivo e que a nação continua interessante a nível internacional, mesmo com eventual mudança de governo. Além disso, a bancada conservadora no Congresso mostra, tanto para o mercado de ações como para o de juros, que o risco fiscal não é alto. “Seja qual for a definição dos cenários, temos o técnico do mercado leve. Isso significa que os gestores alocaram poucos recursos no Brasil. Essa resposta positiva que tivemos da Bolsa foi mais no mercado local. O estrangeiro ainda espera uma resolução das eleições. Eles entendem a importância do Congresso no micro, mas mantêm um olhar mais macro. Estamos vivendo um momento em que não sofremos mais tanto com esses ciclos de variações financeiras, com empresas mais sólidas na Bolsa. Esse crescimento foi a sinalização de uma segurança que, independentemente da mudança que possa ter, não temos tanta incerteza pela frente”.
Por Tatyane Mendes / Jovem Pan
Imagem - Freepik
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