A alegria estampada no rosto da família demonstra a plena realização desde que o jovem de origem pobre, José Antônio Figueiredo Santos, de 19 anos, foi aprovado no curso de Medicina na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) campus Cajazeiras. O jovem ficou em primeiro lugar entre todos os estudantes da rede pública de ensino. “Foi um processo incrível. A alegria era imensa, a gente não consegue se controlar, chora, ri e pula”, ressaltou o estudante.
O jovem é filho de um agricultor e uma dona de casa e foi criado em uma casa simples com pouquíssimos recursos. “Ele ligou de Pombal para mim. Comecei a pular, a chorar, gritar”, falou a mãe de José Antônio. “Eu não esperava, mas tinha fé em Deus e era o que ele queria, era o que eu queria dar para ele”, disse o pai muito emocionado.
Decidimos desbravar o interior da Paraíba para conhecer esse jovem que tornou realidade o que para muitos seria impossível. Para contar essa história de superação, a TV e Rede Diário do Sertão pegou a estrada. Ora asfalto, ora terra, foram quase 200 km de percurso entre Cajazeiras e Paulista, município localizado na região de Pombal, no Sertão da Paraíba, bem na divisa com o Rio Grande do Norte. De Paulista, cidade pequena, com pouco mais de 12 mil habitantes, seguimos para a zona rural, enfrentando mais 16 km até chegarmos ao sítio Timbaúba, onde a família já aguardava nossa reportagem.
Os donos da casa, dona Maria da Guia, 52 anos, seu Joaquim Tomé dos Santos, 64 anos, criaram 8 filhos enfrentando as mais duras realidades para sustentar a família. José Antônio é o caçula entre os homens.
“Tudo que eu fiz para trás já esqueci, do sofrimento, vou viver para frente agora. Os dias que eu durar é só alegria. Sempre dei conselho ao meu filho: coma do seu suor que você derramar, não tenha inveja de ninguém, ser pobre não é defeito”, contou seu Joaquim Tomé.
Apesar das dificuldades, os irmãos de José encontraram na educação a possibilidade de mudança. Anderson é engenheiro, Igor está prestar a concluir Administração, Maria Eduarda cursa Química, Maria Clara está no Ensino Médio, Maria Luiza no Fundamental II.
Seu Joaquim nunca frequentou uma escola, seu negócio é trabalhar na roça. “No tempo de estudar eu fazia o que tinha que fazer para ele [o filho] ficar; é claro que tinha hora que tinha que ir mesmo, porque tinha que fazer mesmo as obrigações daquilo que a gente toma conta. Eu sempre tive esse sonho”, disse o pai.
Dona Maria da Guia é uma mãe exemplar, mas também nunca teve oportunidade de estudar. A família demorou para conseguir erguer as paredes para ter uma casa digna. No quarto que os filhos dormem, José teve que dividir entre as atividades do dia a dia e a rotina de estudos.
“O dia a dia era sempre cansativo, mas foi possível conciliar. A lida do campo não é fácil, quem mora na zona rural sabe. A criação de animais não é um processo tranquilo, não é simples, mas foi possível conciliar com os estudos, mesmo com essa demanda”, destacou José Antônio.
Na escola da rede pública de ensino, José deu passos importantes até chegar à aprovação em Medicina. Ele sempre gostou de ajudar as pessoas e é daí que vem o desejo pelo curso.
“Eu sempre vi em mim mesmo a habilidade de sentir o sentimento das outras pessoas, eu sempre consegui entender o que a pessoa sentia, ver quando a pessoa estava triste, entender o que a pessoa sente. Eu sempre tive uma empatia muito grande com o outro”, destaca o jovem.
PRIMEIRO LUGAR EM MEDICINA NA UFCG, CAMPUS DE CAJAZEIRAS
Na categoria de estudantes de escolas públicas, a nota de José Antônio foi a maior, por isso ele ficou em primeiro lugar e vai cursar Medicina no campus da UFCG em Cajazeiras, no semestre que será iniciado ainda este ano. A aprovação de José é a quebra de diversos paradigmas, entre eles a desigualdade. Um menino que estudava enquanto cuidava dos animais na zona rural agora vai para a universidade fazer um dos mais concorridos cursos do Brasil.
“O sistema de cotas está aí para isso, para quebrar as desigualdades criadas. Então é muito importante você fazer uso onde você se encaixa e conquistar seu sonho”, disse.
Rita de Cássia é a melhor amiga de José Antônio e está alegre com a conquista. “Eu sei que sempre foi um sonho dele, sei que motivo de desistências teve, mas também eu sei que a boa parte dele é cuidando dos animais aqui no sítio e o tempinho que ele tinha livre ele acabava estudando”, disse a jovem.
O AMOR DOS IRMÃOS
Anderson e Isabele, irmãos de José, começam a ver a transformação que a educação está promovendo na família. “Conseguir uma vaga num curso de Medicina, de onde a gente vem, de família humilde, zona rural, escola pública, não é uma coisa fácil de acontecer nem de se fazer, porque a gente sabe o que ele fez com o pouco que ele tinha. Não tinha acesso a uma internet de qualidade, não tinha acesso a equipamentos de tecnologia avançados, então acredito que daqui para frente vai melhorar com relação ao acesso a mais informações e a partir disso ele vai conseguir ser ainda melhor do que ele já é”, falou Anderson.
“A gente torcia muito porque ele era esforçado e a gente também queria mudar a vida dos nossos pais, porque tudo era difícil. É uma família grande, a gente nunca teve tanta ajuda e ele sem um notebook para estudar, era só um celular velho, mas ele tentou e conseguiu. A gente ficou muito feliz e eu espero que ele mude a vida do meu pai e da minha mãe”, ressalta a irmã.
COMO AJUDAR?
Sem dinheiro para comprar todo o material necessário ao curso, José Antônio disponibiliza seu contato para doações. Se você deseja ajudar, ligue (83) 98224-9383. Esse número também é a chave Pix para doações no nome do próprio estudante: José Antônio Figueiredo Santos. Sem condições financeiras para comprar os diversos materiais, sua ajuda é indispensável.
Fonte: Diário do Sertão
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