A Arábia Saudita e outros países produtores de petróleo da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) anunciaram neste domingo (2) que vão cortar a produção em cerca de 1 milhão de barris por dia.
A redução começa em maio e deve ir até o fim do ano. Sauditas e russos devem cortar 500 mil barris diários cada.
A redução da oferta de petróleo no mercado internacional deve causar um choque de preços, o que pode impactar os valores dos combustíveis no Brasil.
No fim de fevereiro, o governo retomou a cobrança de impostos federais sobre a gasolina. De início, os preços cobrados nos postos subiram, mas nas últimas semanas tiveram queda.
Os levantamentos semanais da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram que o litro da gasolina custava, em média, R$ 5,08 na semana anterior à volta dos impostos. Duas semanas depois, o preço havia subido para R$ 5,57. Na semana passada, estava em R$ 5,48.
Ainda assim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, ficou em 0,69% em março, puxado justamente pelo preço da gasolina.
O resultado só não foi pior porque o preço do petróleo no mercado internacional, usado como referência pela Petrobras para vender combustível às refinarias no Brasil, estava "comportado".
O barril do tipo Brent fechou a sexta-feira (31) custando US$ 79,77. No auge da crise de preços dos combustíveis em 2022, turbinada pela guerra na Ucrânia, chegou a US$ 140.
Agora, o ministério da energia saudita disse em comunicado que o corte voluntário foi uma medida de "precaução", destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo. Isso porque os preços da commodity acumulam quedas sempre que há indícios de recessão na economia global, em especial nos países desenvolvidos.
A perspectiva de recessão não é nova, mas ela foi intensificada com os recentes receios de crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, que poderiam frear ainda mais as economias impactadas pela alta recente dos juros.
Na sexta, os preços já haviam retornado ao nível anterior à crise bancária, com alívio do sentimento de que o problema pode ser maior. Agora, há um novo impulso de preço, dado por uma redução de oferta.
Reoneração suavizada
Os preços da gasolina no Brasil são formados pelo preço cobrado pela Petrobras às refinarias, pelos impostos estaduais e federais, e pelos lucros de distribuidoras e revendedoras. (relembre aqui)
Com essa equação, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva desfrutou de duas operações casadas para amortecer a alta no fim de fevereiro: trazer de volta os impostos federais do combustível e, ao mesmo tempo, reduzir o preço cobrado pela Petrobras às refinarias.
Em outras palavras: quando o governo precisou retomar a arrecadação, conseguiu também reduzir o valor final pelo lado da Petrobras, porque o petróleo estava com preços em queda no mercado internacional.
A estatal anunciou o reajuste de preço da gasolina no dia 28 de fevereiro, um dia antes da reoneração entrar em vigor. De acordo com nota da empresa, essas reduções tinham o objetivo de buscar o equilíbrio dos preços com os mercados nacional e internacional, "através de uma convergência gradual".
"A companhia, na formação de preços de derivados de petróleo e gás natural no mercado interno, busca evitar o repasse da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo salutar nos termos da legislação vigente", informou a empresa em nota oficial.
O mercado deve precificar nesta segunda-feira (3) qual será o impulso nos preços do petróleo.
Segundo relatório de sexta-feira da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina brasileira está sendo vendida por um valor 2% abaixo do mercado internacional. Ou seja, seguindo a mesma lógica de fevereiro, há uma pressão no horizonte para acompanhar os preços internacionais.
Dólar é importante
A reoneração da gasolina foi a primeira vitória de Fernando Haddad (PT) no cargo de ministro da Fazenda. Ele travou uma batalha contra a ala política de seu próprio partido, que via na retomada dos impostos federais uma ameaça de disparo da inflação.
Com uma nova pressão no preço do petróleo, Haddad pode evitar o desgaste com uma melhora do câmbio. O real desvalorizado é o outro fator importante que pode elevar o preços dos combustíveis no Brasil, já que o barril de petróleo é negociado em dólar.
Na sexta-feira, o dólar fechou em queda pelo sexto pregão consecutivo, repercutindo o novo arcabouço fiscal apresentado pela equipe econômica do governo federal. A moeda norte-americana recuou 0,55%, cotada a R$ 5,0691.
O resultado renovou o menor patamar do dólar desde o dia 2 de fevereiro, quando fechou o pregão cotado a R$ 5,0444.
Fonte: g1
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