O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) está prometendo tudo o que os colegas querem ouvir para conquistar votos na corrida à presidência da Câmara. No pacote de “bondades” constam cargos na Mesa Diretora e em comissões, vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) e até respaldo ao projeto de lei que prevê anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 janeiro de 2023.
Com essa estratégia, Motta tem feito um “arrastão de apoio” e já conseguiu reunir adesões de bancadas contra e a favor do governo. A lista vai do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, passando por MDB, União Brasil e Podemos.
Antes favorito para a sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), foi preterido pelo antigo amigo e anunciará formalmente sua desistência na próxima semana. O deputado Antônio Brito (PSD-BA), com quem ele tinha feito uma aliança, também deve se retirar da disputa.
Dirigentes do PL afirmam que Motta garantiu levar para o plenário, se eleito, o projeto da anistia aos condenados do 8 de janeiro, incluindo uma emenda para derrubar a inelegibilidade de Bolsonaro, que não pode concorrer até 2030. O fiador das promessas de Motta é o próprio Lira, seu padrinho político.
“Lira tem talento: vai no Lula, vai no Bolsonaro e conversa com todo mundo”, disse ao Estadão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. “Está tudo acertado para o atendimento das nossas pautas.”
Na terça-feira, 29, Lira retirou o projeto de anistia da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pela bolsonarista Carol de Toni (PL-SC), e o despachou para análise de uma comissão especial. A iniciativa fez com que ele ganhasse tempo para que a queda de braço em torno da proposta não contaminasse a sua sucessão.
“Temos certeza de que o projeto da anistia vai avançar de forma célere na comissão especial”, avaliou o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ).
Há também outros pedidos que, de acordo com integrantes do PL, receberam sinal verde de Motta. “O mais importante para nós é a anistia, mas há o compromisso com propostas que tratam das prerrogativas parlamentares, aviltadas pelo Supremo Tribunal Federal com buscas e apreensões em gabinetes da Câmara”, observou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). “Hoje é com a gente; amanhã pode ser com qualquer outro.”
As eleições que renovarão o comando da Câmara e do Senado ocorrerão somente em fevereiro de 2025, mas se tornaram a principal moeda de troca no Congresso neste fim de ano. No Senado, a vitória do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), é dada como favas contadas. A votação é secreta.
Enquanto o PL assegura que suas pautas pró-Bolsonaro serão contempladas, o PT tem outra interpretação dos diálogos com Motta. Lula deu aval ao candidato de Lira depois que o deputado do Republicanos prometeu apoio a seu projeto de reeleição, em 2026.
“Conversamos com Hugo Motta sobre a participação em um bloco que dê governabilidade e estabilidade ao presidente Lula”, disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. “Não achamos que haja clima para esse projeto da anistia prosperar.”
O PT negocia com Lira e com Motta uma cadeira no TCU, uma vez que a Câmara poderá indicar dois nomes para o tribunal nos próximos anos. O acerto passa pelo ministro Aroldo Cedraz, que foi indicado pelo PP de Lira para o cargo e está inclinado a antecipar sua aposentadoria de 2027 para ano que vem. O nome mais cotado do PT para a vaga, até agora, é o do líder do partido na Câmara, Odair Cunha (MG).
Como em todas as eleições no Congresso, as negociações incluem, ainda, disputas por cargos na Mesa Diretora e nas comissões temáticas. As mais cobiçadas são a CCJ, Educação, Saúde e Orçamento.
Com uma bancada de 92 deputados, a maior da Câmara, o PL quer a primeira vice-presidência e cinco comissões. O PT, por sua vez, reivindica a 1.ª secretaria e fará de tudo para manter sob seu domínio a Comissão de Saúde, que concentra a maior parte das emendas parlamentares.
O União Brasil pede a 2.ª vice-presidência da Casa, o comando da CCJ – que hoje está com o PL – e a relatoria do Orçamento de 2026.
Em reunião com a Executiva Nacional do União Brasil e a bancada de deputados federais do partido, nesta quinta-feira, 31, Elmar aceitou abrir mão de entrar na briga pela presidência da Casa. Em público, no entanto, disse que ainda se mantém no páreo.
Elmar rompeu relações com Lira após ser escanteado. Os dois ficaram um mês sem se falar e só voltaram a conversar neste mês, de forma protocolar, quando Lira fez uma ligação para tratar de votações no plenário da Casa.
“Já cheguei muito mais longe do que achava que poderia chegar. Nesse processo, eu já comecei perdendo. Perdi um amigo que eu considerava meu melhor amigo, o presidente Arthur Lira”, afirmou Elmar nesta terça-feira, ao chegar para o encontro da Executiva de seu partido.
Para tentar se contrapor a Motta e Lira, Elmar fez uma aliança com Brito, que agora também é pressionado a abandonar a candidatura.
Na próxima semana, o PSB e o PDT – que haviam se comprometido com Elmar – também anunciarão apoio a Motta. O escolhido por Lira está agora em busca da adesão do PSDB-Cidadania, Avante, Solidariedade e PRD.
Até agora, os partidos que avalizam a candidatura de Motta reúnem 324 dos 513 deputados. O Novo deve lançar o deputado Marcel van Hattem (RS) e o PSOL ainda avalia a possibilidade de apresentar um nome para o embate.
Esses são os termos das tratativas para que Elmar anuncie publicamente sua desistência da disputa em favor de Motta.
Fonte - O Estadão
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