A morte de Maria Danielle Cristina Morais Sousa, de 38 anos, segue causando grande repercussão em Campina Grande. O viúvo da paciente, Jorge Elô, publicou uma carta aberta rebatendo as declarações do prefeito Bruno Cunha Lima (União), que durante uma coletiva de imprensa nessa quarta-feira (26) sugeriu que um histórico genético pode estar ligado ao falecimento de Danielle. O prefeito também criticou o que chamou de "politização" do caso.
Na carta, Jorge Elô fez um apelo contundente: "Pare de nos ferir e cumpra seu papel". A declaração reflete a dor da família e a insatisfação com a condução do caso por parte do poder público.
Leia a íntegra da carta de Jorge Elô a Bruno Cunha Lima:
“Se o senhor tivesse prestado atenção ao caso desde o início, veria que, em nenhum momento, escolhemos politizar o crime que sofremos. Sempre fomos enfáticos ao afirmar que o fato de o médico do pré-natal dela, particular, estar de plantão naquela noite horrível nos deu uma falsa sensação de segurança. Ele sabia de tudo, acompanhou-nos desde o início e sabe que nunca deixamos de fazer um exame solicitado, seguir uma recomendação ou negligenciamos a gestação em momento algum.
Quando houve o trombo aos seis meses de gestação, ele recomendou a medicação anticoagulante, e ele tem absoluta certeza de que essa medicação não deixou de ser aplicada nenhum dia sequer – mesmo com os braços dela roxos e doloridos, chorando pela dor que a medicação causa. Tenho em casa TODAS as seringas aplicadas, que ela decidiu guardar para recordar o quanto foi forte para tornar nosso sonho realidade.
O senhor saberia que nos encontramos com ele na terça-feira, na consulta particular, quando verificamos que estava tudo bem com o bebê e a mãe. Seguimos rigorosamente suas orientações para dar entrada no ISEA, o que ocorreu na quinta-feira, dia 27.
Veria também que ele assumiu o plantão às 18h do dia 28, o que nos deu a certeza absoluta de que estaríamos seguros.
Pergunte a ele como ela chorou ao vê-lo, o quanto agradeceu a Deus e disse que confiava estar segura. Pergunte também por que, sabendo de todo o caso, ele preferiu modificar a medicação para a intravenosa ao invés de submetê-la a uma cesárea. Pergunte por que ele permitiu que a medicação fosse aplicada sem o BIC (Bomba de Infusão Controlada). Ele nos conhecia, conhecia nosso sonho, sabia o quanto confiávamos nele e seguimos todas as suas orientações durante todo esse tempo!
Se o senhor quer investigar alguma questão genética, então não nos cause ainda mais sofrimento. Sente-se com esse médico e pergunte a ele por que nunca solicitou tal exame. Verá que, durante toda a gestação, ela esteve saudável, com o controle absoluto da medicação, e que tanto ele quanto os exames sempre asseguraram isso.
Aproveite e pergunte como ele, conhecendo todo o quadro, todo o esforço e todo o sonho, não foi verificar como ela estava antes de abandonar seu turno. Ele ouviu o sofrimento dela durante três horas seguidas — de gritos e dor — sem um segundo de paz!
Pergunte também à profissional por que ela trocou o acesso da medicação e aumentou sua dosagem de forma absurda, sem seguir a indicação médica. Pergunte por que, quando fui avisar que ela estava vomitando, tremendo e com dores abdominais sem contrações, ela simplesmente me disse que era normal.
Diga à outra profissional, que viu que a cabeça do bebê havia coroado, por que, ao retornar pela segunda vez e perceber que o bebê havia “subido”, ao invés de dizer à mãe que isso ocorreu porque ela não fez esforço suficiente, ela não foi escutar os batimentos cardíacos do bebê e medir a pressão da mãe.
Aproveite e pergunte por que, quando retornaram pela terceira vez — quase 50 minutos depois da primeira visita -, também não verificaram os sinais vitais do bebê e da mãe, mas, em vez disso, me fizeram segurar um pano para que ela fizesse ainda mais força, até que desmaiou e eles perceberam a gravidade da situação.
Pergunte ao médico da UTI que a recebeu sobre a quantidade de sangue que já havia na hemorragia e há quanto tempo ela precisaria estar sendo negligenciada para chegar a esse nível.
Pergunte também ao outro médico que a operou se ele já tinha visto um útero se romper da forma como o dela rompeu e se esse tipo de rompimento pode ser causado pelo excesso de medicação para indução do parto — porque eu ouvi dele que SIM, e depois também pesquisei e descobri que SIM.
Pergunte também aos profissionais que cuidaram dela na UTI, que estavam todos revoltados, incluindo um que chorou ao me dizer que sabia o absurdo que havia sido feito. Pergunte aqueles que, da UTI, lutaram para restabelecer a saúde de Dani após um crime tão trágico!
Pergunte a si mesmo como pode ser tão cruel a ponto de, no dia do velório e do enterro de Dani, diante de tanta dor da família, fazer um depoimento tão absurdo! Durante esses 26 dias, o senhor não se manifestou e, quando finalmente abriu a boca, fez num dia de tanta dor para a gente, com uma tese absurda, que se ainda fosse verdade, só reforçaria a negligência
Sofrida.
Se o senhor acha que há alguma questão genética a ser investigada, sente-se com o ginecologista dela e pergunte por que ele não investigou isso durante todos os meses de acompanhamento. Ele era pago — e bem pago — pela consulta. Tinha a obrigação de identificar qualquer problema. Mas sabemos que ele não o fez porque todos os exames mostram que Danielle e Davi Elô eram saudáveis!
Foram DIVERSOS de sinais de alerta de que algo estava errado. A equipe negligenciou. Não agiu com a agilidade necessária, como tivemos que ouvir em coletiva de imprensa da secretaria de saúde.
Pergunte-se: como um sonho tão bem cuidado, tão bem zelado, pôde ser destruído por negligência, por violência, por tratarem uma vida como se fosse apenas mais uma, descartável!
Se há humanidade, peço que não toque em nossas dores. A dor que estamos sentindo já é imensa. Tenha respeito por tudo o que ocorreu. E, se fizer as perguntas que lhe propus, verá que jamais, em hipótese alguma, iríamos relatar tais fatos, passar por tanto sofrimento e dor, se não tivéssemos absoluta certeza do que vivemos e sofremos!
Cada golpe que estamos sofrendo só nos torna mais fortes. Então, pare de nos ferir e cumpra seu papel de mostrar os verdadeiros culpados à sociedade, ao invés de querer culpar a vítima no dia de seu velório e enterro. Campina Grande inteira tomou coragem para lutar essa luta. Agora, mostre de que lado está: do lado da negligência ou do lado dos que querem justiça por Danielle e Davi Elô.
Jorge Elô”
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Maria Danielle faleceu na terça-feira (25), dias após perder o bebê e ter o útero retirado no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), no início de março. No domingo (23), ela recebeu alta após uma segunda cirurgia no Hospital Doutor Edgley, mas, na terça-feira, voltou a ser internada no Hospital Pedro I com sinais de um possível Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. Segundo o viúvo, ela acordou bem, mas, ao sentar-se na cama, sentiu uma dor de cabeça intensa, gritou e caiu no chão. O Samu foi acionado e a encaminhou ao hospital, mas ela não resistiu.
A Polícia Civil solicitou a exumação do corpo de Maria Danielle para realizar novas perícias e esclarecer se sua morte tem relação com as complicações obstétricas que enfrentou anteriormente. O delegado Rafael Pedrosa intensificou as investigações e pretende ouvir todas as testemunhas e envolvidos. O Ministério Público da Paraíba (MPPB) também acompanha o caso.
A Secretaria de Saúde de Campina Grande divulgou uma nota lamentando a morte da paciente e garantindo que todas as manobras médicas foram feitas para salvar sua vida. No entanto, a família segue buscando respostas e justiça.
O enterro de Maria Danielle aconteceu na tarde da quarta-feira (26). A dor da família e a polêmica em torno do caso reforçam a necessidade de esclarecimentos para garantir que a verdade seja revelada.
Segundo o pai da criança, Jorge Elô, a mulher deu entrada na unidade hospitalar no último dia 27 de fevereiro. Na manhã do dia seguinte, exames indicaram a viabilidade de um parto vaginal, e a equipe médica iniciou a indução com comprimidos intravaginais.
Naquele momento, souberam que o mesmo médico que realizava o pré-natal particular da gestante estaria de plantão naquela noite no ISEA. Na madrugada do dia 1º de março, o médico substituiu a medicação por uma intravenosa, intensificando as contrações.
Por volta das 6h daquele dia, segundo relato do pai, duas enfermeiras do hospital atenderam a mãe da criança. Uma constatou que a cabeça do bebê já estava coroada, enquanto a outra aumentou a dosagem da medicação sem, segundo ele, consultar o médico.
“Ela começou a vomitar e a tremer de frio. Ao procurarmos ajuda, ouvimos que era ‘normal’. Desesperada, [a vítima] implorou para não ficar sozinha, mas as profissionais a abandonaram, alegando ter outras gestantes para atender. Nosso médico de confiança havia ido embora do plantão sem sequer nos ver”, afirmou nas redes sociais.
Ainda de acordo com Jorge Elô, o trabalho de parto parou de evoluir, e as profissionais teriam culpado Danielle por não ter “colaborado”. O pai relatou que, minutos depois, elas teriam forçado a mulher a fazer força, mas ela desmaiou e estava sem pulso. Nesse momento, a levaram às pressas para a cirurgia.
Em entrevista à rádio CBN João Pessoa, o pai da criança afirmou que, após sua esposa ser levada para a sala de cesárea, ficou sem notícias sobre o que estava acontecendo. Quando finalmente entrou no local, viu a equipe médica retirando o bebê já sem vida e segurando o útero da mãe.
Por Patos Online
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