
A morte de Gerson de Melo Machado, 19 anos, após invadir o recinto da leoa Leona no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, não é apenas um fato trágico. É um acontecimento que revela, de forma dolorosa, a fragilidade do Estado brasileiro em suas políticas públicas de atenção psicossocial. Apesar dos avanços históricos proporcionados pela Reforma Psiquiátrica, o país ainda convive com invisibilidade, subfinanciamento e precarização dos serviços que deveriam amparar pessoas em intenso sofrimento psíquico.
O comportamento de Gerson não pode ser interpretado como coragem, valentia ou destemor. Trata-se de um ato marcado por profunda desorganização subjetiva, associado a vivências de sofrimento mental intenso, nas quais a percepção de risco encontra-se gravemente comprometida. É o tipo de gesto que emerge quando alguém já não encontra outra forma de ser visto e reconhecido. Em muitos casos, é uma súplica silenciosa que, lamentavelmente, permanece inaudível até que a tragédia se concretize.
Como dizia Nise da Silveira, “O artista, o poeta, mergulha no inconsciente e volta. Já o doente, o louco, não tem o bilhete de volta. Essa é a diferença.” Gerson mergulhou, mas não encontrou o caminho de retorno. Seu ato é expressão de uma luta interna devastadora, que muitas vezes busca, ainda que de forma distorcida, ser vista ou reconhecida ao menos uma última vez.
A morte de Gerson não aconteceu em um único dia. Ela foi construída ao longo de anos de negligência institucional, falta de acesso a cuidados continuados e ausência de suporte adequado para ele e para sua família. O poder público falhou no dever de proteger, acolher e oferecer caminhos terapêuticos que pudessem sustentar sua jornada. Falhou também na construção de redes de cuidado que integrassem saúde, assistência social, educação e comunidade.
Entretanto, é preciso reconhecer que a responsabilidade do Estado não exclui a responsabilidade coletiva. Garantir qualidade de vida e bem-estar a pessoas com transtornos mentais é um compromisso ético de toda a sociedade. Ainda vivemos em um contexto onde a saúde mental é tratada com silêncios, preconceitos e distanciamentos. Jovens em sofrimento psíquico continuam invisíveis. Seus sinais não são reconhecidos. Suas dores não são legitimadas. Muitas vezes, as mãos que poderiam segurá-los não estão presentes quando mais precisam.
A morte de Gerson é um chamado. Um chamado duro, doloroso e urgente. Ela nos lembra que tragédias assim não são acidentes isolados, mas desfechos anunciados de um sistema que insiste em não escutar. Que seu último gesto ecoe não como motivo de julgamento, mas como pedido de mudança na efetivação das políticas públicas voltadas à saúde mental. Que desperte a consciência para a necessidade de ampliar equipes, fortalecer serviços, qualificar profissionais, apoiar famílias e promover ambientes protetivos para quem sofre.
Que a dor de Gerson não seja em vão. Que ela nos mova da inércia para a ação e do silêncio para o acolhimento. Que possamos reconstruir, como sociedade e como Estado, redes de cuidado capazes de impedir que outras vidas se percam na solidão do sofrimento psíquico. Não podemos devolver a vida de Gerson, mas podemos garantir que outras não sigam o mesmo caminho trágico.
Texto: Brunno Alves de Lucena, psicólogo e Docente do UNIFIP
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