A Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), começou hoje (16), no Rio de Janeiro, os testes do Brace Trial Brasil (BTB), um estudo com o uso da vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin) com objetivo de reduzir o impacto da covid-19 em profissionais de saúde - enfermeiros, médicos, técnicos, fisioterapeutas, recepcionistas e porteiros, maiores de 18 anos. O voluntário não pode ter sido infectado pela covid-19 e nem participar de outro ensaio clínico.
O projeto é liderado mundialmente pelo pesquisador australiano Nigel Curtis, do Murdoch Children’s Research Institute, e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates (Gates Foundation). Com o início dos testes, o Brasil se junta à Austrália, Espanha, Reino Unido e Holanda.
Ao todo serão vacinados 10 mil profissionais de saúde, sendo mil no Rio de Janeiro e dois mil em Mato Grosso do Sul.
A coordenadora do estudo no Brasil, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, disse que antes de começarem a fazer parte do estudo os voluntários fazem testes de PCR para verificar se não têm covid no momento da aplicação. Os participantes terão amostras de sangue colhidas para estudos de marcadores imunológicos e serão acompanhados durante um ano.
“Serão vistos e examinados após três meses, aos seis, aos nove e 12 meses. Em todas essas consultas, será colhido sangue para determinação desses marcadores imunológicos, e será avaliado interinamente aos seis meses após a vacinação e ao final como qualquer estudo de Fase III de vacina ao final de 12 meses os resultados definitivos”, explicou Margareth Dalcolmo à Agência Brasil.
O recrutamento dos voluntários será realizado pelo Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF) e pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh). O interessado em ser voluntário pode se inscrever na página da Fiocruz.
Segundo a pneumologista, o estudo já conta com 500 inscritos no Rio de Janeiro.
Hoje (16), os testes começaram a ser feitos nas instalações da Fiocruz, em Curicica, e na quarta-feira (18) têm início no Campus de Manguinhos.
A médica informou que os estudos já partem da Fase III, porque a BCG é uma vacina singular muito conhecida, e usada há 50 anos em todos os recém-nascidos. Além disso, os estudos, previamente realizados por outros motivos que não a pandemia atual, mostraram uma proteção para outras viroses respiratórias de grupos de população estudados, sobretudo na África.
Conforme explicou, isso levantou a hipótese de que a BCG pudesse ser usada, por ter reação imunológica tão variada que chega a ser chamada até de imunidade treinada, como se treinasse o organismo para se defender contra outros patógenos, especialmente os virais.
“A hipótese formulada é de que diante de uma nova virose do novo coronavírus ela possa ter efeito protetor evitando as formas mais graves de covid-19 ou a própria doença”, disse.
O primeiro acompanhamento dos voluntários que tomam a vacina será diário nos próximos 14 dias. “As pessoas que tiverem sido vacinadas agora serão estudadas. Elas já colheram sangue hoje (16), no momento zero da vacinação. Serão acompanhadas diariamente nos primeiros 14 dias. Todos os voluntários recebem telefone e vídeo chamadas do estudo. Com as outras vacinas também é assim”, disse, acrescentando que nesse primeiro dia foram vacinados dez voluntários.
A pesquisadora incentiva a participação dos profissionais da saúde nos estudos, avaliados por ela como muito bem conduzidos, com cepa vacinal dinamarquesa de boa qualidade, já muito conhecida por todos os países participantes. Nenhum país tem resultados preliminares dos testes. “O Brasil foi o último país a entrar e temos reuniões semanais com todos os responsáveis dos outros países. Já há 3.700 pessoas dos 10 mil já incluídos. Essas pessoas estão em observação ainda. Não há nenhum resultado, nem interino. O estudo começou antes de nós, mas em nenhum deles deu tempo ainda de fazer análise interina, que será feita aos seis meses”, disse.
Edição: Fernando Fraga / Agência Brasil
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