Diálogo inter-religioso é tema central da primeira visita de um chefe da Igreja Católica ao país; agenda prevê visita a locais atacados pelo Estado Islâmico
O Papa Francisco desembarcou em Bagdá, no Iraque, nesta sexta-feira (5) para sua viagem ao exterior mais arriscada desde que foi escolhido para liderar a Santa Sé, em 2012, dizendo que se sentiu ser seu dever fazer essa visita "emblemática" porque o país sofreu muito por muito tempo.
Um avião da Alitalia que transportava o papa, sua comitiva, um destacamento de segurança e cerca de 75 jornalistas pousou no Aeroporto Internacional de Bagdá um pouco antes do previsto, por volta das 14h (8h, em Brasília)
O Iraque destacou milhares de membros das forças de segurança para proteger o pontífice de 84 anos durante a visita, que ocorre depois que uma onda de ataques suicidas que geraram temores por sua segurança.
"Estou feliz por fazer viagens novamente", disse ele em breves comentários a repórteres a bordo de seu avião, aludindo à pandemia do coronavírus que o impediu de deixar o Vaticano. A viagem ao Iraque é a primeira fora da Itália desde novembro de 2019.
“Esta é uma viagem emblemática e um dever para com uma terra martirizada há tantos anos”, disse Francisco, antes de colocar uma máscara e cumprimentar cada repórter individualmente, sem apertar as mãos.
Durante a estadia no Iraque, Francisco viajará de avião, helicóptero e, possivelmente, carro blindado para quatro cidades, incluindo áreas que a maioria dos estrangeiros não consegue acessar.
Ele celebrará missa em uma igreja de Bagdá, encontrará o principal clérigo muçulmano xiita do Iraque na cidade de Najaf, no sul do país, e viajará para o norte, para Mosul, onde o exército teve que esvaziar as ruas por motivos de segurança no ano passado para uma visita do primeiro-ministro iraquiano.
Mosul é um antigo reduto do Estado Islâmico (EI), e as igrejas e outros prédios ainda carregam as cicatrizes do conflito.
Desde a derrota dos militantes do EI em 2017, o Iraque tem visto um maior grau de segurança, embora a violência persista, muitas vezes na forma de ataques de foguetes por milícias alinhadas com o Irã contra alvos dos EUA.
Na quarta-feira, 10 foguetes caíram em uma base aérea que abriga forças dos EUA, da coalizão e do Iraque. Horas depois, Francisco reafirmou que viajaria para o Iraque.
O Estado Islâmico também continua sendo uma ameaça. Em janeiro, um ataque suicida assumido pelo grupo extremista matou 32 pessoas no ataque mais mortal em Bagdá em anos.
Francisco se encontrará com membros do clero em uma igreja de Bagdá onde homens armados islâmicos mataram mais de 50 fiéis em 2010. A violência contra grupos religiosos minoritários do Iraque, especialmente quando um terço do país era governado pelo Estado Islâmico, reduziu a comunidade cristã a um quinto de já foi.
O pontífice também visitará Ur, local de nascimento do profeta Abraão, que é reverenciado por cristãos, muçulmanos e judeus, e conhecerá o mais reverenciado clérigo muçulmano xiita do Iraque, o grande aiatolá Ali al-Sistani, de 90 anos.
O encontro com Sistani, que exerce grande influência sobre a maioria xiita do Iraque e na política do país, será o primeiro de um papa.
Alguns grupos militantes xiitas se opuseram à visita do papa, enquadrando-a como uma interferência ocidental nos assuntos do Iraque, mas muitos iraquianos esperam que isso possa ajudar a promover uma nova visão do Iraque.
CNN BRASIL (Com informações da Reuters)
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