O conceito de assassinato traz em si a ideia de premeditação e dolo — a intenção clara de tirar uma vida. Mas Ayla, de cinco anos, não era o alvo. Foi atingida por uma bala que a encontrou no meio do nada, mesmo sem intenção. Talvez a palavra certa seja “homicídio culposo”, quando uma vida é tirada sem o desejo de matá-la. Mas, neste caso, onde começa a linha entre o descuido e a culpa?
Quando morre uma criança, é como se cortassem uma asa da esperança. Ayla era a vida em sua forma mais ingênua. Saltitante e risonha, seguia por ali, preocupada apenas com a própria inocência. Até que, de repente, o mundo escureceu, e, ao invés de morrer, ela virou uma estrelinha no céu. Não estou romantizando o crime; é que não tenho adjetivos para a minha indignação. Também não foi acaso. Foi violência. Onde perdemos o controle sobre nossas ruas? Tomaram dela a chance de realizar os seus sonhos futuros, de existir por mais um dia.
Acredito que Ayla nem saiba o que houve. — Papai do céu! Papai do céu!! — assustada, foi arrebatada. Ayla dos Santos.
Quem é responsável por isso? Quem é o culpado? Quem fez a bala, quem vendeu a arma, quem puxou o gatilho, quem errou na mira? Quem provocou a ira de uma comunidade inteira?
Os culpados estão escondidos, talvez em algum beco, mas não escaparão... A partir de agora, são vigiados pelos olhos de todos os meninos e meninas do mundo. Somos todos Ayla. E seremos, também, a resistência contra o esquecimento e o silêncio que tentam sufocar o grito.
Fazer justiça é uma obrigação. E, enquanto ela não for feita, não haverá paz em nenhum coração.
*Por Misael Nóbrega de Sousa
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