O laudo tanatoscópico que detalha as causas da morte de Eliana Pereira de Melo, 31 anos, ocorrida no dia 25 de março deste ano nas dependências do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III Tozinho Gadelha, em Sousa, Sertão da Paraíba, foi divulgado nesta terça-feira (27), pelo Diário do Sertão. O documento técnico, elaborado pelo Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (Numol) de Cajazeiras, aponta que a morte da paciente ocorreu por “sufocação indireta do tipo asfixia posicional”.
Segundo o laudo assinado pelo perito Juarez Soares Dorneles Neto e revisado pelo chefe do Numol, Luiz Rustenes Fernandes de Lima, a paciente morreu por não conseguir respirar adequadamente na posição em que ficou presa ao leito após tentar se libertar das contenções mecânicas. O texto descreve que Eliana estava imobilizada por braços, pernas e tórax, e, ao tentar sair da cama, acabou parcialmente suspensa, sem conseguir apoio para retornar à posição normal, o que comprometeu sua capacidade ventilatória.
“O leito, de altura elevada, impossibilitou a paciente de retornar à posição deitada ou alcançar apoio para se reerguer”, diz um trecho do documento. “A permanência prolongada nessa posição resultou em hipoventilação progressiva e, consequentemente, insuficiência respiratória fatal.”
O laudo também evidencia uma série de lesões externas na paciente, incluindo manchas roxas no pescoço, punhos e braços, além de hematomas internos no crânio e marcas de possíveis agulhadas no quadril. Foram ainda detectadas manchas hemorrágicas internas na caixa torácica, típicas de casos de asfixia mecânica.
No exame toxicológico, foram identificadas seis substâncias sedativas e antipsicóticas no sangue, urina e estômago da paciente: clorpromazina, clozapina, quetiapina, prometazina, levomepromazina e diazepam. Embora o laudo não determine as quantidades exatas, os peritos apontam que a combinação desses medicamentos pode intensificar os riscos de depressão respiratória e comprometer severamente a capacidade motora do paciente.
A família de Eliana Pereira denuncia que a morte pode ter sido resultado de negligência, maus-tratos e abuso no atendimento prestado no CAPS. Desde o falecimento, os parentes exigem explicações sobre as condições em que a jovem foi encontrada e a conduta dos profissionais durante o período em que esteve internada — cerca de uma semana antes da tragédia.
Em nota oficial, a Prefeitura de Sousa informou que está conduzindo uma investigação disciplinar interna para apurar os fatos e que, por precaução, cinco servidores do CAPS III Tozinho Gadelha foram afastados. A gestão municipal também reiterou que está à disposição das autoridades e da família para fornecer todo o suporte necessário durante a apuração.
Enquanto o inquérito policial segue sob segredo de Justiça, o caso levanta preocupações sobre os métodos adotados em unidades de saúde mental e reforça a necessidade de fiscalização rigorosa, formação adequada de equipes e garantia da integridade física e emocional dos pacientes. A morte de Eliana reacende o debate sobre direitos humanos e o tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos no sistema público de saúde do Brasil.
Por Patos Online
Com informações do Diário do Sertão
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