O Reino Unido começa, nesta terça-feira (8), a fornecer as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech, menos de uma semana após anunciar a aprovação emergencial do imunizante no território.
Margaret Keenan, uma britânica de 90 anos, tornou-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19 fora de um ensaio clínico. Keenan recebeu a injeção em um hospital em Coventry, no centro da Inglaterra, na manhã desta terça-feira às 6h31 no horário local (3h31 no horário de Brasília), uma semana antes de completar 91 anos.
Moradores da Inglaterra, País de Gales e Escócia receberão a primeira dose a partir de hoje. A Irlanda do Norte disse que começaria a vacinação no começo desta semana, mas não especificou o dia.
O processo, que é complicado pela necessidade de armazenamento em temperaturas ultrafrias e da aplicação de duas doses para chegar a 95% de eficácia, será observado de perto pelo restante do mundo.
Nessa primeira leva, cerca de 50 hospitais disponibilizarão a vacina para pessoas acima de 80 anos, profissionais do sistema de saúde sob maior risco e funcionários de casas de repouso.
Depois disso, o governo quer montar cerca de mil centros de vacinação em todo o país em consultórios médicos para aplicar o imunizante em pacientes vulneráveis.
As autoridades de saúde locais esperam ter mais de 4 milhões de doses do imunizante até o fim de dezembro, do total de 40 milhões de doses encomendadas. Isso seria suficiente para vacinar 20 milhões de pessoas, ou um terço da população britânica.
O Reino Unido é a nação europeia com o maior número de vítimas da Covid-19, com 61.342 mortes confirmadas até o momento, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.
June Raine, chefe da MHRA, a agência reguladora de medicamentos britânica, também assegurou em entrevista à BBC no último domingo (6) que a imunização será "tão segura quanto qualquer vacina geral" e que os recipientes serão monitorados pelo sistema de saúde.
"Você pode ter sintomas leves, mas, provavelmente, desaparecerão em um dia ou dois, e nada de natureza séria", afirmou. De acordo com o órgão, mais de um em cada 10 vacinados pode sentir efeitos colateriais como dor no local de aplicação, dor muscular, de cabeça ou nas articulações, calafrios e febre.
De acordo com a bula da vacina, divulgada no domingo, ela não é indicada para grávidas, lactantes e pacientes com febre aguda.
Raine também foi questionada sobre o potencial impacto do Brexit no programa de vacinação. "Nós praticamos e estamos prontos para qualquer resultado possível", disse ela.
O período de transição para a saída do Reino Unido da União Europeia termina em 31 de dezembro. As conversas com os líderes do bloco sobre um acordo comercial continuaram ao longo desse fim de semana.
"Nosso objetivo na MHRA é garantir que, qualquer que seja o resultado ou o acordo, remédios, ferramentas médicas e vacinas alcancem todos em todas as partes do país da mesma maneira, sem interrupção", disse.
Desafios logísticos
As primeiras doses da vacina chegaram ao país na noite da última terça (1º), em caminhões sem identificação que seguiram para instalações de armazenamento que não foram divulgadas.
O imunizante deve ser mantido a -70ºC, uma temperatura que só pode ser atingida em congeladores especiais. Assim que for retirado, deve ser refrigerado e utilizado em até cinco dias. Os lotes só podem ser colocados em pacotes menores por vezes limitadas e sob condições rigorosas. Assim que um frasco é diluído para ser injetado, ele não pode mais ser transportado e deve ser aplicado em até seis horas, ou descartado.
Essas especificidades tornam difícil o acesso de residentes de casas de repouso e maiores de 80 anos aos postos de vacinação.
A secretária de Saúde da Escócia, Jeane Freeman, reconheceu o desafio de transportar o imunizante para esses locais, mas acrescentou: "Por mais que haja dificuldades à frente, [o início da vacinação] deve nos dar uma esperança real de que o fim da pandemia está próximo".
Outros países
Ainda nesta semana, a agência reguladora dos Estados Unidos tem uma reunião para discutir uma autorização de emergência da vacina da Pfizer. Outro encontro semelhante acontecerá no dia 17 para avaliar a aplicação do imunizante da Moderna.
Anthony Fauci, maior especialista em doenças infecciosas dos Estados Unidos, se desculpou na última quinta-feira (3) por ter sugerido, no dia anterior, que os reguladores ingleses não haviam inspecionado a vacina Pfizer/BioNTech tão cuidadosamente quanto deveriam.
Na Rússia, centros de vacinação em Moscou começaram a distribuir doses da Sputnik V no último sábado (5), inicialmente para um grupo prioritário composto por professores, profissionais de saúde e funcionários de serviços municipais.
O país foi o primeiro a aprovar uma vacina contra o novo coronavírus, em agosto, autorizando o tratamento para o público geral antes da fase 3 dos testes clínicos - que ainda estão em andamento.
No Brasil, o governo paulista anunciou nesta segunda (7) que a vacinação com a Coronavac deve começar em 25 de janeiro, primeiro para profissionais de saúde, idosos, indígenas e quilombolas. O imunizante, porém, ainda não obteve a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
(*Com informações de Laura Smith-Spark, Mia Alberti, Niamh Kennedy e Amy Woodyatt da CNN Internacional em Londres)
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