Popularidade de Lula começa a cair no Nordeste, reduto histórico do PT
Pesquisas recentes de três institutos mostram que a aprovação ao terceiro mandato do petista recuou acima de dez pontos na região
05/04/2024 às 23h00Atualizada em 06/04/2024 às 00h15
Por: Marcos OliveiraFonte: Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887
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Na última quinta-feira, 4, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou uma obra simbólica em Arcoverde, cidade no sertão do seu estado natal. A nova estação, que é parte da chamada Adutora do Agreste, um braço da transposição do Rio São Francisco, irá levar água a 68 municípios de uma das regiões mais secas do país. No dia seguinte, estava previsto na agenda outro destino emblemático: a vistoria de obras da Ferrovia Transnordestina, que irá ligar o porto de Pecém, no Ceará, ao Piauí, de onde se conectará à Ferrovia Norte-Sul. A recente ida ao Nordeste é só mais uma na extensa agenda do petista na região. Ela inclui dezoito viagens em 2023 e cinco neste ano — nenhuma outra parte do país recebeu tantas visitas dele. Mas o movimento é compreensível: tradicional trincheira da esquerda, o eleitorado nordestino dá mostras de que a simpatia com Lula e o governo já não é mais a mesma de outros tempos.
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A constatação da existência de rachaduras na muralha vermelha vem de todo lado. Pesquisas recentes de três institutos (Ipec, AtlasIntel e Paraná Pesquisas) mostram que a aprovação ao terceiro mandato do petista recuou acima de dez pontos no Nordeste (veja os quadros). Outras três sondagens mostram que a corrosão dessa boa vontade avançou bastante nas três maiores cidades da região: Fortaleza, Salvador e Recife. Na capital cearense, a insatisfação com o governo cresceu dezessete pontos em um ano, segundo o Paraná Pesquisas.
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Embora Lula ainda tenha a aprovação da maioria do eleitorado da região, a oscilação negativa não deixa de ser preocupante, ainda mais a menos de seis meses de uma eleição municipal que Lula e o PT consideram estratégica. Em 2016, ano em que teve seu pior desempenho eleitoral por causa da Lava-Jato, o PT conquistou apenas uma capital, Rio Branco. Na disputa seguinte, não conseguiu vencer em nenhuma, algo que não acontecia desde a sua fundação. Neste ano, a expectativa é lançar ao menos 125 candidatos a prefeitos nas cidades com mais de 100 000 habitantes e doze ou treze nas capitais. No Nordeste, petistas vão encabeçar candidaturas em Fortaleza, Teresina, Natal e Maceió, mas em nenhuma delas aparecem na liderança das pesquisas. Em João Pessoa, uma eventual candidatura petista está no campo das possibilidades. A tendência da capital paraibana, assim como em São Luís, Salvador, Aracaju e Recife, é que o PT apoie candidatos de outros partidos. Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral da sigla, o senador Humberto Costa acha que o partido pode ser competitivo ao menos em Teresina, Fortaleza e Natal, mas para isso precisará do seu principal cacique político. “Contamos com a força do presidente Lula e das lideranças locais, que se somam à do PT, para termos um bom desempenho eleitoral neste ano na região”, afirma.
O PT tem ciência de que um bom desempenho no Nordeste neste ano, ainda que seja em eleições municipais, dará ao partido sustentação política na região daqui a dois anos, quando Lula deverá tentar a reeleição. Não por acaso, o presidente aproveitou a agenda recente na área para tratar dos problemas eleitorais. No Recife, encontrou-se com o prefeito João Campos (PSB) para tentar resolver o imbróglio da vaga de vice na chapa, pleiteada pelo PT. O prefeito, no entanto, resiste. Ele lidera as pesquisas com folga, tem a gestão bem avaliada e é dada como certa não só a sua reeleição, mas a saída do cargo antes do meio do mandato para disputar o governo em 2026. O PT põe na mesa a indicação a vice-prefeito em troca do apoio na disputa estadual. Já no Ceará, Lula e o PT precisam desenrolar um enrosco gigante: cinco nomes são pré-candidatos a prefeito de Fortaleza. A definição deverá ser feita em encontro municipal, sem necessidade de prévia, mas é certo que haverá participação direta de gente muito próxima ao presidente, como o ex-governador cearense e ministro da Educação, Camilo Santana.
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A oposição, claro, já sentiu o cheiro de sangue e intensificou a presença no Nordeste. O casal Jair e Michelle Bolsonaro tinha agenda marcada para Maceió na sexta, 5, a mais bolsonarista das capitais nordestinas — em 2022, foi a única que deu mais votos ao ex-presidente do que a Lula. O prefeito, João Henrique Caldas (PL), tentará a reeleição como o candidato bolsonarista. No sábado, a ex-primeira-dama vai receber o título de Cidadã Honorária de Maceió e participará de eventos no PL Mulher, enquanto o ex-presidente se dedicará a articulações com políticos locais. Trata-se de uma agenda que se tem tornado comum nos últimos tempos. O roteiro na capital alagoana é exatamente o mesmo que foi feito em Salvador, no início de março. A peregrinação de Bolsonaro em “solo vermelho” ainda inclui João Pessoa, onde o ex-presidente participará de um evento com o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito da capital paraibana pelo PL. Segundo outro ex-ministro, Gilson Machado, Bolsonaro ainda deverá visitar em breve as cidades de Recife e Caruaru, ambas em Pernambuco.
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