A verdadeira história sobre a origem e a existência do Esporte Clube de Patos, que aqui será descrita, a qual já tem 80 anos de duração e muita tradição, na realidade é desconhecida, não apenas por muitos desportistas de Patos e da Paraíba, mas também da grande maioria dos torcedores alvirrubros. No entanto, essa história, está muito bem documentada na 2ª edição, ampliada e revisada do livro “Álbum do Futebol de Patos + 90 minutos – A História do Futebol de Patos, de autoria do amigo José Romildo de Sousa, publicado em 2008.
Por outro lado, visando complementar essa briosa história e com base nos conhecimentos adquiridos ao longo da minha vida, tomei a liberdade de acrescentar alguns comentários, com o objetivo de melhorar, esclarecer e ilustrar essa fantástica e grandiosa trajetória do futebol de nossa querida cidade de Patos, em especial no que se refere ao meu time do coração desde os meus 6 anos de idade, quando comecei a gostar de futebol: o Esporte Clube de Patos.
Gostaria, porém, de aproveitar a oportunidade para dizer que, apesar de ter uma imensa paixão pelo Esporte, sou um ferrenho torcedor do futebol patoense como um todo. Inclusive, na minha juventude, na década de 1970, quando o Nacional era treinado pelo saudoso e inesquecível Virgílio Trindade e contava com grandes craques em seu elenco — como Messias, Teomar, Levi, Diouro, Clóvis, Tico e tantos outros —, fui jogador do Nacional Atlético Clube. Acredito que sabia jogar. Inclusive, em 1972, fui bicampeão amador pelo Nacional. Portanto, em resumo, torço contra o Nacional apenas quando ele joga contra o Esporte.
Também é importante mencionar que, apesar de gostar muito de jogar futebol desde criança, sempre tive um objetivo muito claro e definido em relação ao meu futuro: estudar e me tornar um profissional na área da meteorologia. Esse foi um propósito que incorporei como uma missão a ser cumprida, desde uma certa segunda-feira do mês de março (dia da feira de Patos), no ano de 1958. Nesse ano, ocorreu uma das mais severas e danosas secas registradas no Nordeste em todo o século passado. Os efeitos terríveis e avassaladores da seca de 1958, que trouxe muita fome e sofrimento ao povo nordestino, levaram nossos conterrâneos das zonas rurais de Patos e das cidades vizinhas mais carentes a se concentrarem na antiga Praça João Pessoa — hoje Praça Edivaldo Mota — e a saquearem a Cooperativa dos Funcionários do DNER.
Como eu morava a duas casas da referida cooperativa, presenciei todo esse triste acontecimento, que, mesmo após 67 anos, ainda permanece muito vivo e nítido em minha memória. Em relação a esse evento, algo que me chamou profundamente a atenção e me sensibilizou foi o fato de que, embora houvesse diversos produtos disponíveis na cooperativa — inclusive, em minha opinião, alguns até mais valiosos —, os camponeses levaram apenas alimentos: feijão, arroz, farinha, fubá, leite, café, açúcar, bolachas, biscoitos etc.
Esse episódio mexeu tanto com minha sensibilidade que, mesmo sendo apenas uma criança de 6 anos, senti que precisava estudar de forma mais aprofundada os fenômenos responsáveis pelas secas e chuvas no semiárido nordestino. Assim, desde jovem, busquei compreender e aprofundar meus conhecimentos nas áreas de meteorologia, agrometeorologia, micrometeorologia e hidrologia.
Por ter levado essa missão a sério ao longo dos meus 73 anos de vida, sou atualmente o único brasileiro com formação acadêmica completa em meteorologia: sou técnico em meteorologia, bacharel em meteorologia, mestre em meteorologia e doutor em meteorologia. Já realizei diversas pesquisas nessas áreas, sou professor universitário há 43 anos, fui representante do Brasil na Organização Mundial de Meteorologia, e também atuei como coordenador do Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto da Paraíba (LMRS-PB).
Atualmente, sou professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), atuando nos cursos de graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, mestrado em Engenharia Agrícola e doutorado em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial. Também sou coordenador do Laboratório de Agroclimatologia e Meteorologia da UNIVASF.
Antes de falarmos do Esporte Clube de Patos, é necessário conhecermos um pouco da História do Botafogo Futebol Clube de Patos – apelidado de Botafogo de Inocência. O Botafogo foi criado no ano de 1945 e no ano seguinte, em 1946, foi inscrito na Federação Paraibana de Futebol. Escalação do time do Botafogo em 1945 - em pé: Gerson, Lourival, Zezé Buchudo, Edite Lira, Diá, Ciçola e Nego Adelson; agachados: Juvenal, Otacílio Divino, Didi Barros e Souto Maior (ver foto abaixo).
A foto a seguir, mostra o Botafogo Futebol Clube de 1946, o mesmo Botafogo Futebol Clube que já existia desde 1945, o qual a partir desse ano, passou a ser chamado de Botafogo de Inocência. Portanto, o Botafogo Futebol Clube fundado em 1945, filiou-se a Federação Paraibana de Futebol no ano de 1946, e em 07/07/1952, teve o nome mudado para Esporte Clube de Patos. Portanto, conforme pode ser observado nos textos a seguir, pelas próprias declarações de Inocêncio de Oliveira, em 07/07/1952, houve apenas a mudança do nome Botafogo para Esporte e das cores alvinegra para alvirrubra. Deste modo, de fato e de direito o Esporte Clube de Patos já existe desde 1945, como Botafogo Futebol Clube de Patos. Portanto, a equipe alvirrubra de Patos, já tem 80 anos de história e tradição. Logo é a mais antiga do Sertão paraibano. Ou seja, não é o Atlético de Cajazeiras a equipe de futebol mais antiga do Sertão da Paraíba, ele foi fundado no ano de 1948.
Pode ser claramente observado, na foto do Botafogo F. C. de 1946, apresentada a seguir, que o uniforme é o mesmo de 1945. Porém, como em 1946, havia mais recursos disponível e Inocência Oliveira fez de sua casa uma espécie de hotel para hospedar os jogadores vindos de outras cidades, o elenco ficou reforçado e mais forte, com vários jogadores de fora de Patos no elenco: Teixeira (1), Coremas (1), Taperoá (4) e Campina Grande (5). Escalação do Botafogo de 1946 - em pé: Napoleão, Coremas, Bertim, Juvenal, Fiá, Josias, Ruivo, Zuca, Gustavo e Nego Torona; agachados: Chedó, Félix Pacaia, Zé Bom, Osvaldo e Adelson; deitado: Zezé Buchudo.
Em 1946, surge o decantado Botafogo Futebol Clube, o Botafogo de Inocêncio Oliveira, o imbatível escrete do sobrado de Tobias Medeiros (prédio onde funciona hoje o Banco Real), que proporcionou tantas alegrias à torcida patoense no Campo do Estrela (onde é hoje o Estádio Municipal José Cavalcanti) e que, inclusive, permaneceu invicto por quase sete anos, escrevendo durante este período uma das páginas mais bonitas da história do futebol sertanejo.
Em entrevista concedida em 1974 ao Jornal O SERTÃO, fundado pelo exdeputado Gilvan Freire, Inocêncio Oliveira, relembrando a trajetória do seu Botafogo, foi categórico em afirmar: "Se fosse hoje Patos seria o eterno campeão paraibano".
No ano de 1976, garimpando subsídios para enriquecer a historiografia patoense, estivemos na Rua 18 do Forte, local onde Seu Inocêncio Oliveira se recolheu até o final dos seus dias, e colhemos dele valioso depoimento sobre sua participação no futebol de Patos.
Narra Seu Inocêncio:
“Em 1946, estava eu em minha casa jantando, sete horas da noite, quando chegaram duas pessoas. Me chamaram: ‘Quem é que está aí?’ Era Souto Maior e Zé Balbino. Convidei para jantar. ‘Não pode jantar, você vai acolá com a gente.’ Eu estava doente nesse tempo, escorado num pau. Terminei a janta e saí: ‘Que é que há?’ ‘É pra você ir acolá com a gente.’ ‘Aonde? A luz não tem, tá no escuro. E eu tô muito doente, escorado num pau por aqui.’ ‘Não, mas nós vamos assim mesmo.’ Eu fui com eles. Quando cheguei, me jogaram naquele sobradinho onde foi o corte de carne de Patos, na Praça João Pessoa. Subiram comigo. Quando cheguei lá em cima, estava repleto de gente. Uma mesa cheia de pessoas. Aí me mandaram sentar na cabeça da mesa. Me sentei. Lá estavam presentes algumas pessoas que ainda me recordo: Souto Maior, Caetano Marinho, Luiz Marinho, Adauto Santos, Severino Lustosa e muitos outros. Então me sentei. Aí disseram: ‘O senhor já é o presidente do Botafogo de Patos.’ Eu disse: ‘Não posso aceitar isso, sou um homem que vive muito doente e não tenho mais forças pra isso.’ ‘Mas você é, queira ou não queira, o presidente do Botafogo de Patos.’
Diante da imposição, tive que aceitar, mesmo sem poder e sem querer. E como eu já tinha sido jogador de futebol na minha terra, Taperoá...
Fiquei sujeito à opinião deles, porque não podia faltar a tantos amigos. Achei feio dizer que não aceitava. Então disse a eles: ‘Futebol, os senhores sabem o que é? É preciso gastar muito dinheiro. Não é com pouca coisa, não, senhores, que se faz futebol.’ Então meti a mão na minha carteira e puxei um conto de réis, que naquele tempo era dinheiro. Outro puxou outro conto de réis, outro puxou quinhentos, um duzentos... Aí fizemos uns dois contos e oitocentos. No outro dia, fui lá no campo do Estrela, fui obrigado a fazer cercas e ajeitar as coisas. Fui obrigado a transformar minha casa num hotel para jogadores.
Tinha um de Teixeira, um de Coremas — o Nego Coremas —, quatro da minha terra, cinco ou seis de Campina Grande. Na minha casa tinham almoço, janta, ceia, boas conversas e dinheiro para quando queriam bardear.
Comecei a trabalhar pelo futebol. Desses todos dentro da minha casa, somente um deu para o primeiro quadro (Nego Coremas); os outros foram para o segundo quadro e não deram em nada. Comecei a fazer a seleçãozinha. Eu mesmo apitava, eu mesmo treinava o time. Não admitia opinião de ninguém, porque só atrapalha. E eu tinha mais ou menos intuição para o negócio.
Tinha muitos rivais aqui. O CICA, por exemplo, tinha o BRASIL, onde era chefiado pelo meu amigo e grande craque Araújo. Treinei meu time sem jogar com ninguém. Quando estava mais ou menos, havia essa grande rivalidade dos outros clubes contra o Botafogo. Mas, depois, tudo que era bom veio pra cá.
Consegui montar a seleção que eu desejava. Era composta por: Zezé, Urái e Biu Porto; Totinha e Adelson; Mané de Ferro; Josias, Araújo, Ruivo, Zuca e Biu Porto. Fiz minha seleção. Bati todos da cidade. Inclusive o CICA, que era o mais forte adversário.
Depois, o França esteve por aqui, passou uns dez ou quinze dias nos ajudando. Ele era técnico do Coremas.
Veio um convite do Treze para jogarmos aqui. O França se prontificou, passou uns dias com a gente. Conseguimos vencer o Treze por 6x5. Vitória espetacular!
O França voltou para cuidar do time dele, o Coremas, e mandou um ofício convidando a gente para jogar com eles aqui. Aceitei. Ele preparou o time e trouxe. Chegando aqui, foi derrotado por 4x0. Voltou zangado. Preparou o time de novo e fez novo convite. Aceitei. Veio com o time e apanhou por 4x2. Aí se zangou de vez e foi embora. Disse que ia pra Fortaleza e ia acabar com esse time daqui.
Ele era jogador em Fortaleza. Lá, o time em melhores condições era o Ferroviário. O Fluminense do Rio tinha ido lá, vencido todos e só empatou com o Ferroviário.
Então o França achou por bem mandar o Ferroviário pra cá. Enviou ofício, aceitei o convite. O jogo foi espetacular, talvez o melhor que já assisti: Botafogo x Ferroviário. E vencemos por 3x2.
Nosso Botafogo jogou seis anos e tanto sem nenhuma derrota. Em dia de jogo, quando saíamos do estádio, era como se fosse carnaval: bandeira hasteada, todo mundo a pé fazendo festa. Houve alguns empates por conveniência. Mas não perdemos pra ninguém durante seis anos e tanto, com o Botafogo em meu poder.
Depois precisei viajar. Já acabado, doente e arrasado, fui obrigado a me retirar para a Bahia.
Tempos depois, houve uma reunião com a presença de Souto Maior, Dr. Lauro Queiroz, Dr. Ronaldo Queiroz e tantos outros. Compareci. Quando entrei no salão, recebi uma grande salva de palmas. Agradeci e disse que aceitava sim, tudo de bom do Botafogo.
Essa reunião era para mudarem o nome do Botafogo para Esporte Clube de Patos. Não concordei. Ofereci tudo o que tinha do Botafogo: documentos, recibos, inclusive o do mês pago à Federação.
Mas não aceitaram.
“Queremos agora o Esporte Clube de Patos”, justificaram.
E aí está.
Rastreando as fontes bibliográficas que se reportam à evolução futebolística de Patos, fomos encontrar no livro de Walfredo Marques — ao qual já nos referimos anteriormente — o registro da participação de uma equipe de Patos no Primeiro Campeonato do Interior. Pela sua importância e pelo resultado final do certame, fizemos questão de transcrevê-lo na íntegra:
"Conforme portaria do Cap. Clodoaldo Fialho, presidente da FPF, foi nomeado para o cargo de Diretor do Departamento de Futebol do Interior o conhecido desportista Edvaldo da Silva Brandão, hoje destacado funcionário da nossa Faculdade de Direito. Visando a um maior intercâmbio com o hinterland paraibano, organizamos o primeiro campeonato, que recebeu logo o batismo de 'Certame Anchises Gomes', como justa e merecida homenagem à memória de um dos maiores desportistas paraibanos, fundador da LDP, infelizmente falecido em outubro de 1948.
Feitas as formalidades necessárias, a FPF marcou o 1º jogo para 20 de novembro de 1949, na cidade de Patos, entre o Botafogo local e o Borborema da cidade de Monteiro. Após as providências recomendadas e sob a direção do juiz Aluízio Lyra, foi realizado o jogo, vitoriando o quadro local pelo elevado placar de 6x1. No dia 27 do mesmo mês, a equipe de Inocêncio (o destaque é nosso) fez a segunda partida em Monteiro e ganhou por 3x2, com arbitragem de Neneco.
Os demais jogos apresentaram os seguintes resultados: Agrotécnico de Bananeiras 3 x Guarabira 1, em Guarabira — juiz: Batista Cruz; Guarabira 4 x Agrotécnico 0 — juiz: Veiga Pessoa; União de Itabaiana 4 x América de Ingá 0 — juiz: Antônio Reis; América 2 x União 4 — juiz: Antônio Reis; União 4 x Guarabira 0 — juiz: Arnaldo Von Shosten; Nacional de Sapé 4 x Santa Cruz de Santa Rita 4 — juiz: Neneco; União de Itabaiana 5 x Guarabira 2 — juiz: Lourival Ribeiro; em Santa Rita: Santa Cruz 2 x Nacional de Sapé 1 — juiz: Ubaldo Gaudêncio; no Cabo Branco: Nacional de Sapé 2 x Santa Cruz de Santa Rita 1 — juiz: Franca Neto (Franquinha);
Em Itabaiana: União 5 x Nacional 1 — juiz: Aluízio Lyra; em Sapé: Nacional 1 x União 0 — juiz: Batista Cruz; novamente, Nacional 3 x União 2 (terceira partida), no Cabo Branco — juiz: Veiga Pessoa.
Em Patos: Botafogo 3 x Nacional 0 — juiz: Antônio Reis. Finalmente, em Sapé, Nacional 1 x Botafogo 1.
Esse jogo não chegou a terminar; o Botafogo deixou o gramado e não concordou em voltar noutra oportunidade. O Nacional de Sapé foi o campeão, ficando de posse da Taça 'Anchises Gomes', certame idealizado e instituído no dia 24 de abril de 1949, segundo aniversário de fundação da FPF."
Interessante observar que, ao se analisar os resultados deste certame, a única equipe invicta durante todo o campeonato foi o Botafogo de Inocêncio Oliveira, que representava, naquela oportunidade, a cidade de Patos. Entretanto, mesmo o Nacional de Sapé tendo sofrido três derrotas, foi aclamado como campeão do 1º Campeonato de Futebol do Interior. São coisas do futebol...
Ainda a respeito desse campeonato, o escritor patoense Flávio Sátiro Fernandes relembra que, sempre que o Botafogo retornava das memoráveis partidas que realizava por este certame, era recebido pela torcida com muita festa e euforia na entrada da cidade. Inclusive, realizava-se "carreata", em que muitos automóveis desfilavam com os atletas pelas principais avenidas de Patos.
Como foi esclarecido anteriormente, no depoimento de Inocêncio Oliveira, o Esporte Clube de Patos surgiu da vontade de alguns torcedores em criar uma nova entidade esportiva para Patos, substituindo, assim, o inesquecível Botafogo. Segundo Metódio Leitão, a escolha pelo nome Esporte Clube de Patos foi uma proposta do Sr. Bivar Olhinto de Mello e Silva, que, no setor esportivo, além de jogador, foi também juiz de futebol.
O Esporte foi fundado em 07 de julho de 1952, e foram seus fundadores: Inocêncio Oliveira, Sargento Porfírio, Zéu Palmeira, Antônio Araújo, Souto Maior, Dr. Lauro Queiroz, Wilson Nobre, Mozinho Leitão, Francisco Queiroz (Chicão), Medeiros da Chevrolet, Vavá Brandão e Chico. A reunião para a criação do time aconteceu nas instalações do antigo Tiro de Guerra 07-152. José Torreão encabeçou a relação dos presidentes do clube, e Mané Andrade foi seu primeiro técnico.
Nessa reunião, houve outros detalhes interessantes que não aparecem nos textos mais conhecidos. Embora o nome Esporte Clube de Patos tenha sido aceito sem maiores resistências, como entre os presentes havia torcedores do Botafogo do Rio de Janeiro e do Náutico Capibaribe, em determinado momento do encontro, esse grupo informou que aceitava o nome Esporte sem problema. No entanto, não poderia aceitar as cores rubro-negras do Flamengo.
É oportuno lembrar que, na época, o Botafogo, juntamente com o Santos de Pelé, era um dos times brasileiros mais famosos e conhecidos no mundo. O Botafogo tinha em seu elenco dois grandes jogadores: "Mané Garrincha", o maior driblador que o mundo já viu jogar, e "Nilton Santos", o maior lateral-esquerdo de todos os tempos do futebol mundial. O Santos tinha nada menos que Pelé, o maior jogador da história. Nessa época, no Brasil e no mundo, só se falava nesses dois times: o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha.
Isso explica por que muitas pessoas que gostam de futebol e têm idade na faixa dos 60 anos torcem pelo Botafogo e/ou pelo Santos. Ou seja, houve uma união entre os torcedores do Botafogo e os do Náutico Capibaribe de Recife — inclusive há boatos de que o próprio Zéu Palmeira era torcedor do Náutico. Assim, rejeitaram as cores rubro-negras e decidiram adotar as cores alvirrubras, em homenagem ao Náutico Capibaribe.
Portanto, o nome Esporte Clube de Patos é uma homenagem ao Sport Club do Recife, e as cores alvirrubras são uma homenagem ao Clube Náutico Capibaribe, ambos da capital pernambucana.
Sobre a criação do Esporte e sua trajetória, o leitor encontrará no texto de Edleuson Franco de Medeiros, intitulado “Esporte, tua vez chegou...”, escrito especialmente para a 1ª edição desta obra e que será reeditado nesta nova publicação, abrindo o capítulo que se refere ao “Terror do Sertão”.
No artigo, Edleuson Franco (o Gago), prestigiado locutor esportivo, escreveu em 1995 um relato histórico sobre os 43 anos de existência do Esporte Clube de Patos. Ele abordou as vitórias, as derrotas, os craques que passaram pelo time, as alegrias e também as dificuldades enfrentadas pela equipe.
De 1995 até os dias atuais, o Esporte continuou na luta. Ficou alguns anos fora do Campeonato Paraibano e, em 2002, foi rebaixado para a 2ª Divisão. No ano de 2005, deu uma grande alegria à sua persistente e aguerrida torcida ao conquistar o título máximo da 2ª Divisão do Campeonato Paraibano, o que lhe garantiu o direito de retornar à elite do futebol da Paraíba.
A história é uma repetição de fatos. Hoje, mais uma vez, jogará em Patos a mais tradicional das equipes de futebol da Paraíba — talvez até do Nordeste —, o famoso Treze de Campina Grande. O adversário será o Nacional. É a luta do Galo, de garra e canto sem ritmo, contra a beleza e melodia sonora do Canário.
Nos idos de 1947, precisamente no mês de maio, o então invencível Treze fazia sua primeira exibição em Patos. Nossa cidade vivia a fase de "ouro" do futebol. Era o tempo do imbatível Botafogo, o alvinegro de Inocêncio Oliveira. O esquadrão da Praça da Conceição, depois Praça do Ginásio e, atualmente, Praça João Pessoa. Foram-se o Botafogo e os nomes tradicionais da Praça, restando as histórias de ambos.
Jogo marcado: Treze e Botafogo. A histórica difusora de Mané Lino — "com 22 serviços de som instalados nos principais pontos da cidade", como dizia o comercial da antiga Voz das Espinharas — passou meses anunciando a grande partida. A cidade se engalanou para receber o famoso Galo da Borborema.
Um dia antes do jogo, no sábado à tardinha, chegava a "sopa" conduzindo o Treze. Com sua torcida sempre fiel, Patos recepcionou a delegação na ponte de São Sebastião. Com banda de música, o cortejo percorreu as ruas da cidade e, no Hotel Central, hospedou-se a delegação galista.
A meninada encheu a Rua Grande, atualmente Avenida Epitácio Pessoa. Todos queriam conhecer o goleador Totota, o endiabrado centroavante Esmeraldo, a técnica de João Luís, o famoso Lula Peixe. A dupla de zagueiros, formada por Martelo e Baleia, era intransponível. Hercílio marcou época como ponta-esquerda. O alto e famoso goleiro Djalma chamava a atenção. Este, ao ir conhecer a Sorveteria Iracema, do mestre Liberato, arrastou uma procissão de torcedores. “Nem ANTÔNIO ARAÚJO faz um gol num goleirão desse”, diziam. Djalma, com fama de intransponível; Araújo, o maior goleador do Nordeste.
A difusora de Mané Lino, de instante em instante, anunciava o jogo e dava as escalações das equipes. Zé Soares, na Tipografia Minerva, ultimava a impressão do boletim com a propaganda do grande jogo. O Bar de Chicó, na Rua Felizardo Leite — ponto tradicional do futebol da época — amanheceu de portas abertas, garrafas vazias e boêmios cheios...
As apostas se sucediam. As gavetas do Bar de Chicó estavam abarrotadas, guardando o tesouro dos apostadores. A sapataria de Paizinho guaribava as chuteiras e aprimorava as caneleiras...
O consumo de Chica Boa, Aliada e Chora na Rampa — famosas cachaças da época — bateu todos os recordes de venda. Na Sorveteria Iracema, o velho Liberato despachava cervejas em mesas e cadeiras espalhadas pela calçada.
As mocinhas da época abandonaram a novena do mês de maio para fazer “retreta” defronte ao Hotel Central, arriscando um olhar para a rapaziada do Treze.
Os pais sacrificavam até a feira da segunda-feira para assegurar a compra do ingresso. A meninada pedia aos pais e padrinhos o dinheiro adiantado do carrossel da Festa de Setembro — tudo para não perder o grande jogo. Até o mascote do Botafogo ganhou camisa nova. A cidade quase não dormiu. O domingo amanheceu brilhante.
A sede do Botafogo, no primeiro andar ao lado do antigo Açougue Público, na atual Praça João Pessoa, não comportava mais torcedores. O presidente Inocêncio Oliveira, não suportando a distância de seus craques, dormira na própria sede. No pingo do meio-dia, a Rua do Belo Horizonte — hoje Rua Horácio Nóbrega — não cabia o cortejo dos torcedores. Era Patos que caminhava para o Campo do Estrela, primeira denominação do atual Estádio José Cavalcanti.
Na entrada do estádio, os velhos portões de zinco erguiam dois mastros: um com a bandeira branca, listras pretas e estrela solitária do Botafogo; o outro, com pendão branco, contorno preto, a figura de um galo, o nome Treze e as iniciais F.C., de Treze Futebol Clube. O vento tremulava as bandeiras — e muito mais as almas dos torcedores.
O caminhão de Valdeban, gerente da fábrica CICA, transportou o Botafogo ao local do jogo. O Treze seguiu em sua “sopa” particular. Pela primeira vez, Patos viu um roupão olímpico. Elegantemente vestidos, sob os olhares curiosos, os trezeanos chegavam ao estádio.
Precisamente às 15h, o imortal Bivar Olinto, árbitro de categoria reconhecida, apitou, convidando as equipes a adentrarem o campo.
A cerca de arame quase se rompeu quando o Botafogo, correndo, atingiu o centro do Campo do Estrela. Com o Treze, a vaia não foi pequena. O futebol sempre foi assim: irreverente, até com os visitantes. “Seu” Enoque, único fotógrafo da cidade, com sua Kodak, imortalizou as fotos.
Iniciado o jogo, as equipes se estudavam e, de repente, o endiabrado ANTÔNIO ARAÚJO abre o placar. O campo quase vem abaixo. Era a explosão da torcida. Minutos depois, o Treze empata — e desempatava. O primeiro tempo termina em 3 a 3.
Após a água da quartinha e laranja azeda, voltam as equipes ao campo. No final, vitória do Botafogo por 6 a 5, após emocionante empate em 5 a 5.
Araújo deixou sua marca de artilheiro: fez dois gols. Josias marcou também dois, sendo um de bicicleta. Manoel de Ferro e Ruivo completaram o placar.
O Botafogo foi com sua força máxima: no gol, Severino Maxixe, nosso ex-delegado de trânsito; na zaga, Uraí e Biu Porto — este substituído depois por Félix Pacaia. A intermediária formava com Aderson, Totinha (verdadeiro Danilo na posição) e Zé Bom, na lateral esquerda. O ataque era irresistível: Mané de Ferro na ponta-direita; Josias como meia-armador; o grande Araújo no comando de ataque; Ruivo, com um canhão no pé, na meia ponta-de-lança; e Zuca como ponteiro-esquerdo. O técnico, importado do Ceará, era França — o primeiro orientador de futebol que passou pelas terras das Espinharas.
Findo o jogo, vitória do Botafogo. Houve carnaval nas ruas. Era nos tempos dos quintais, com galinheiros nos muros — daí os jantares festivos com “galo” no dia da memorável vitória...
Para o Botafogo, perdeu não apenas o Treze, mas também o Santa Cruz do Recife, o Ferroviário de Fortaleza, todas as equipes de João Pessoa — inclusive o Filipéia, que levou de 6 a 1 —, além de todas as equipes da região, também derrotadas no velho Campo do Estrela.
Os craques do inesquecível Botafogo de Patos brilharam no cenário esportivo nacional. Félix e Uraí transferiram-se para o próprio Treze. Totinha e Josias chegaram ao Madureira, do Rio. Ruivo, após temporada no Treze, jogou no Recife e na Bahia. Mané de Ferro jogou na Seleção Cearense e no Ceará Sporting. E Araújo — o maior craque da história de Patos — brilhou na Seleção Paraibana, no Treze, no Santa Cruz e foi campeão pelo Esquadrão de Aço, o famoso Bahia de Salvador.
Autoria: Prof. Dr. Mário de Miranda Vilas Boas Ramos Leitão
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